
A importância dos 10 minutos iniciais
Na projecção da final todos previram um United cauteloso e alertado para os perigos de tentar discutir o domínio do jogo com este Barça. Os primeiros 10 minutos foram, dentro desta perspectiva, uma surpresa total. Guardiola referiu que a equipa foi surpreendida pela entrada forte do United, mas creio que houve sobretudo um período menos feliz da equipa catalã. As suas linhas permaneceram baixas, não dando profundidade ao pressing e permitindo que o United tivesse mais bola e maior domínio territorial. Talvez mais estranho ainda foi ver a posse de bola blaugrana perder passes e ser incapaz de empurrar o adversário para trás.
O futebol é de facto um jogo particularmente interessante e o resultado deste momento negativo do Barça acabou por ser o mais positivo possível para a equipa catalã. Como que iludido pelo que estava a acontecer, o United pareceu esquecer tudo aquilo que à partida se sabia ser prioritário para se poder superiorizar a uma equipa como o Barça. À primeira vez que foi pressionado, cedeu a posse de bola, permitiu que Iniesta furasse a linha média e depois libertasse Eto’o no 1x1 com Vidic. Pior do que o golo, para o United, só mesmo o seu efeito. O Barça rapidamente se reencontrou e, ao contrário, o United tornou-se numa equipa instável individualmente e sem soluções colectivas para fazer face à qualidade que lhe apareceu pela frente.
80 minutos quase perfeitos
No que se seguiu ao golo, o Barça foi absolutamente irrepreensível. Com bola, fez valer a característica que mais a distingue das demais equipas do futebol actual. A qualidade da posse, com Xavi e Iniesta sempre em destaque, neutralizou por completo o pressing do United, obrigando os ingleses a baixar a sua equipa no campo. Aqui, alerto para uma decisão que me parece relevante de Guardiola, ao manter Iniesta na linha média ao invés de o distanciar do epicentro do jogo, lançando-o como extremo.
Se com bola não faltam elogios a esta equipa, há muito que falta dizer sobre a qualidade com que defende. A reacção à perda de bola é fantástica, rápida e organizada, e impede o primeiro passe de ser pensado, condicionando desde logo a transição adversária. Depois, a linha defensiva, sendo alta, conseguiu quase sempre ser eficaz, controlando as tentativas (algo repetitivas, diga-se) de colocar as bolas nas costas dos laterais. Nota, neste aspecto defensivo, para a intensidade de Pujol e, sobretudo, para a soberba leitura de Piqué na abordagem aos lances.
O “quase” que associo ao “perfeito” surge apenas por um motivo. O Barça teve sobretudo no segundo tempo vários momentos em que conseguiu desorganizar completamente o adversário, fazendo-o perder a lucidez táctica e afastando-o como equipa. A prioridade, estando em vantagem, foi claramente dar segurança e tempo à posse de bola, mas com um pouco mais de arrojo estou em crer que o Barça podia ter conseguido mais golos, mais cedo.
O duelo Messi – Ronaldo
A importância desta nota individual tem a ver com o peso deste jogo para a bola de ouro do próximo ano. A vantagem para quem venceu será enorme, ainda mais, tendo sido Messi um dos assinantes da ficha de goleadores. Não concordo com esta orientação colectiva para a escolha de um prémio individual mas a história recente diz-nos que o herói da equipa que ganha a Champions tem fortes hipóteses de ganhar a eleição de melhor do mundo e este caso não deverá ser excepção. Messi merecerá muito mais o prémio pela fantástica época que vem realizando do que por este duelo em particular, onde Ronaldo, apesar de ter perdido, foi claramente quem mais fez para poder dar ao troféu um outro destino.
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