Porto, e um apuramento tão desejado como esperado - Não há muito a dizer sobre o triunfo do Porto. A qualificação já era esperada, e mesmo a vitória afigurava-se como o cenário mais provável para o segundo jogo. Desta vez, o Lille teve outro arrojo na sua proposta de jogo, tentou condicionar mais a circulação baixa e, com bola, sair de forma mais apoiada. Em desvantagem na eliminatória, os franceses simplesmente não podiam perspectivar quaisquer hipóteses de apuramento se voltassem a passar tanto tempo a ver jogar, como aconteceu há 1 semana. Ainda assim, o futebol do Porto voltou a ser mais do que suficiente para controlar por completo o seu adversário, e essa é a nota de maior realce no cômputo geral dos 180 minutos que as equipas disputaram. Este era um apuramento muito importante para a estratégia do clube, e se o seu paradeiro final é ainda incerto, podemos já ter a certeza que o destino do Porto de Lopetegui não ficará condicionado por uma falsa partida.
Porto e os paradoxos (aparentes!) da posse de bola - Ainda relativamente ao arranque de temporada do Porto, há dois pontos óbvios a destacar na prestação da equipa. O primeiro tem a ver com o estilo, que exacerba fortemente a sua presença em posse. O segundo, de constatação mais objectiva, tem a ver com a segurança defensiva da equipa nestes primeiros 360 minutos de futebol, estando esta a impressionar bem mais nesse plano do que propriamente na criação de desequilíbrios junto das balizas contrárias. Há aqui um primeiro paradoxo, que no entanto é apenas aparente porque resulta do equívoco de se assumir que a posse é um recurso que serve apenas para potenciar ofensivamente as equipas. A posse - à semelhança do pressing, por exemplo - é um meio que tanto pode potenciar os objectivos defensivos como ofensivos das equipas, dependendo do desempenho que estas apresentem. No caso, o exacerbar da posse por parte do Porto tem sobretudo servido para reduzir tempos de ataque adversários, muito mais do que para criar ocasiões de golo para a própria equipa. Numa segunda linha de raciocínio, há outro paradoxo aparente que pode surgir, e que tem a ver com a ideia de que, se o exacerbar da posse limita as ocasiões do adversário e não potencia as próprias, então o estilo implementado por Lopetegui reduz o risco de exposição da equipa. Na minha leitura, é precisamente o contrário, porque uma ideia de jogo que se propõe, com bola, circular tanto em zonas tão baixas e, sem bola, pressionar tanto em zonas tão altas, terá sempre de ser considerada de elevado risco. A questão, aqui, tem a ver com a eficácia da equipa nas diferentes vertentes do seu jogo, que tem sido muito mais competente a circular e pressionar do que propriamente em potenciar situações de desequilíbrio no último terço contrário.
Benfica-Sporting - Nota ainda para o derbi que se aproxima. Na minha leitura, há algum tempo que o Sporting não parte para um embate na Luz com tantas hipóteses de discutir o jogo e o resultado. O Benfica continuará a ser favorito, mas em doses muito mais relativas do que num passado recente. Em parte, porque do lado do Sporting a introdução de Nani lhe oferece um potencial de desequilíbrio muito mais próximo do que Jesus conta do seu lado, particularmente através de Salvio e Gaitan. Mas, pessoalmente, apostaria que o jogo será definido pela capacidade de resposta das equipas na sua fase de construção. O Benfica, que no ano passado conseguiu saltar o presssing do Sporting com grande facilidade, partindo daí para uma das exibições mais conseguidas na Liga, não contará agora com Garay e previsivelmente deverá testar pela primeira vez Samaris na primeira linha de construção. Por seu lado, e ao contrário do que já tenho visto ser sugerido (o que 20 milhões e a selecção argentina fazem à reputação de um jogador!), mas é inegável que Sarr só vem reduzir o potencial da equipa nessa fase de jogo e que, no mesmo sentido, a chegada de Marco Silva acrescenta o ênfase de saída de bola pelo corredor central. Aqui, e como já escrevi, a falta de propensão específica dos centrais parece-me tornar decisiva a qualidade do envolvimento dos dois médios (William e Adrien) e o auxílio que estes possam oferecer à primeira linha de construção. Tanto mais, perante um Benfica que certamente fará do pressing um ponto fundamental da sua proposta de jogo.