Schalke - Real Madrid
Na semana passada, a propósito do que se passou no Leverkusen-PSG, tinha antecipado a possibilidade de uma derrocada germânica neste jogo e, mesmo assim, posso dizer que fiquei surpreendido com a facilidade com que o Real Madrid foi, sucessivamente, ultrapassando a barreira defensiva alemã. Foram 6, o que não é pouco, mas podiam ter sido bem mais!
Na base do problema esteve, novamente, a abordagem táctica caseira. Não se repetiu a postura 'kamikaze' da primeira fase de pressão do Leverkusen, é certo, mas dentro do bloco e entre sectores, o Schalke mostrou desde cedo fragilidades que, a este nível e perante este adversário, só podiam ter um custo desta magnitude. Em particular destaque, a forma como a linha defensiva foi flagrantemente exposta, ora pelo risco assumido na profundidade, ora por falta de apoio da linha média às zonas fundamentais, ora pelo espaço entre os elementos do próprio sector mais recuado. É evidente, aqui, que o contexto é fundamental, e é sempre em face do mesmo que sustento estas apreciações qualitativas. Ou seja, este tipo de comportamentos podem ser - e são de facto, pelo que se vê na tabela - suficientes para a generalidade das equipas da Bundesliga, mas uma coisa é defender Nicolai Muller ou Okazaki (Mainz), outra, bem diferente, é controlar um tridente com a qualidade de Bale-Benzema-Ronaldo!
Sobre o Real, é evidentemente um candidato de primeira linha à conquista da final de Lisboa. Reconhecendo o potencial extraordinário da sua linha ofensiva - apenas com paralelo no rival catalão - tenho ainda algumas reservas em relação a alguns aspectos do jogo madrileno. São impressões que me sobram dos jogos que vi, mas como foram poucos não me quero alongar sobre elas...
Galatasaray - Chelsea
Quando se diz que o Chelsea é um candidato a ter em conta nesta prova, não se pode - nunca! - estar a comparar o potencial ofensivo da equipa com formações como Barça, Real, Bayern ou mesmo PSG. Neste sentido, não era razoável esperar uma exibição autoritária da equipa de Mourinho em Istambul, à imagem do que aconteceu noutros jogos destes oitavos-de-final. Para o Chelsea, o caminho terá de ser sempre em sofrimento, degrau a degrau, mas é certo que em qualquer eliminatória e perante qualquer adversário, os 'blues' têm uma hipótese real de sair vencedores. Uma situação que, aos meus olhos, é semelhante à de Atl.Madrid e Dortmund.
O jogo foi interessante, ainda que ambas as equipas tenham mostrado que têm muito por onde evoluir. Sobretudo o Galatasaray, claro, que cometeu mais erros na fase de construção e mostrou mais lacunas em termos de organização e maturidade colectiva. Uma evidência da superficialidade do modelo de jogo turco é, na minha óptica, a forma como Mancini trocou de sistema, como quem troca de camisa, a meio do jogo. A alteração, sendo justo, foi até bastante útil para as aspirações da equipa. O ponto aqui, porém, é que tanto num sistema como noutro o Galatasaray mostrou muito pouco em termos de evolução das dinâmicas colectivas, e por aí se pode explicar também a leveza com que o treinador muda de sistema a meio de um jogo com esta importância. Afinal, a única vantagem de não se ter grandes dinâmicas colectivas assimiladas, é que há pouco a perder quando se mudam as referências colectivas (sistema).
Ainda sobre a mudança táctica, o que sucedeu foi que Mancini começou por jogar em 4-4-2, com Drogba nas costas de Burak. O comportamento ofensivo da equipa passava por projectar os dois laterais e enfatizar a construção pelo corredor central, nomeadamente com o envolvimento dos dois médios e com Drogba como elemento de ligação, entrelinhas (uma função que, sinceramente, me parece desprezar completamente os pontos mais fortes do marfinense). Ora, quando se projecta os laterais a ideia é, geralmente, aumentar a presença no corredor central, nomeadamente pela dinâmica interior dos extremos. Coisa que, no caso do Galatasaray pouco ou nada se viu, e que por isso acabou por redundar numa perda de soluções de passe no corredor central. Assim, quando Mancini mudou para 4-1-4-1, introduzindo mais um médio, fixando Drogba na frente e abrindo Burak, a equipa passou a ter mais uma unidade na fase de construção, o que lhe permitiu pelo menos ter mais apoios na circulação baixa. Assim, e sem que alguma vez tivesse verdadeiramente colocado o Chelsea em sobressalto, o Galatasaray conseguiu pelo menos maior domínio territorial, empurrando a equipa de Mourinho para o seu meio-terreno, algo que na primeira meia hora não tinha acontecido.
Quanto ao Chelsea, foi também um jogo relativamente modesto, onde se destaca a organização defensiva e, também, o envolvimento defensivo de toda a equipa - destacaria, por exemplo, os papeis de Torres e Schurle, neste particular. Com bola, a opção passou quase sempre por uma construção longa, frequentemente usando o jogo aéreo de Ivanovic como referência. É verdade que Mourinho retirou alguma eficácia desta iniciativa, mas também é um facto que o potencial deste tipo de jogo é relativamente limitado para uma equipa com o estatuto do Chelsea. É sobretudo neste capítulo que tenho curiosidade em ver a evolução da equipa, em 2014/15.