14.2.14

Benfica - Sporting (III): principais desequilíbrios

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Termino a análise ao derbi com a revisão de algumas das principais jogadas. Aqui ficam algumas notas dos 5 lances seleccionados no vídeo:

1- O lance do primeiro golo até começa com um bom condicionamento defensivo do Sporting sobre a construção do Benfica (ou, pelo menos melhor do que aconteceu na maior parte do jogo), criando boas condições para controlar o lance, coisa que efectivamente acontece. Sucede que, para além do que se passou na fase de construção de ambos os lados, houve também uma grande diferença relativamente à resposta das equipas no momento de transição. Esse é o primeiro ponto a focar neste lance, com Adrien a ceder perante a pressão de Fejsa. Depois, nota para a infelicidade de Piris, que escorrega, e para alguma passividade de Heldon, contrastante com a intensidade de Maxi, muito mais agressivo e reactivo neste tipo de acções. No centro da área, o foco final está em Cedric. É verdade que poderia ter sido mais prudente na fase em que o lance ainda está algo indefinido, mas em defesa do jogador pode também argumentar-se que o rápido desdobramento dos laterais é uma das características mais marcantes do futebol do Sporting, e que isso implica sempre algum risco. Seja como for, é o facto de estar demasiado aberto que determina a impossibilidade de ganhar o espaço interior, sobre Gaitan, e não a ausência de reacção ou de noção sobre o espaço a ocupar. Aliás, e de novo em defesa do jogador, é de registar que com alguma frequência foi protagonista de intercepções interiores em lances semelhantes a este, mas que aconteceram sem a mesma velocidade.

2 - O desequilíbrio provocado pelo passe de Garay para Gaitan encontra explicação, sobretudo, no mérito dos dois protagonistas. Excelente o passe, não menos notável a recepção. Ainda assim, a jogada põe em evidência um dos problemas da dificuldade do condicionamento pressionante do Sporting, que permitiu quase sempre a liberdade de um jogador na frente da sua linha média, frequentemente com condições para expor as costas da linha defensiva. É verdade que, à excepção deste lance, há pouco a registar em termos de perigo proveniente desse problema, mas o risco esteve presente em várias ocasiões. Nota ainda para Piris que, perante a eminência do passe e ausência de pressão sobre o portador da bola (Garay), deveria ter cortado mais rapidamente a profundidade, abdicando de manter a coerência posicional com a última linha. Ou, pelo menos, esse é o comportamento que me parece mais lógico nesta situação, sendo que é uma situação obviamente discutível e cada equipa/treinador tem a liberdade de definir o que pretende, de acordo com as suas ideias.

3 - O terceiro lance, que culmina com o brilhante passe de Markovic a isolar Rodrigo, inicia-se numa decisão questionável de Adrien, próximo da área do Benfica e na sequência de um ataque rápido do Sporting. A solução evidente seria o passe para Montero, o que potenciaria muito o perigo da jogada, parecendo possível que o médio do Sporting o tivesse tentado fazer, apesar do bom condicionamento de Gaitan, que faz a pressão no sentido correcto, precisamente condicionando o passe interior (nota, de novo, para o sentido táctico e capacidade de trabalho de Gaitan, o tal aspecto que durante muito tempo não foi devidamente reconhecido ao jogador). Num segundo momento, e mais uma vez, alguma dúvida quanto à agressividade dos jogadores do Sporting na reacção à perda, nomeadamente Montero - se há situação em que faz sentido arriscar a falta é esta. Mais à frente, o crédito do desequilíbrio volta a ser justificado, quase que por inteiro, pelos intervenientes do Benfica, agora Markovic e Rodrigo. Rodrigo, porque depois de abrir a linha de passe volta a procurar o corredor central, o que em princípio oferece maior potencial à jogada, sendo depois muito rápido a perceber e atacar o espaço nas costas da linha defensiva. Markovic, pela qualidade evidente do passe. Do ponto de vista do Sporting, não era trivial fazer melhor, mas pode questionar-se tanto a reacção de Piris, que perde o posicionamento interior, como a pressão de Dier, que apesar de se aproximar de Markovic, acaba por não evitar o que pretendia, precisamente o passe de rotura.

4 - Na minha opinião, o principal sublinhado do lance, que termina com a finalização de Rodrigo após o drible interior sobre Piris, vai para a forma como o Benfica se desdobra rapidamente, tanto defensivamente, como ofensivamente. Primeiro, tem uma boa presença na sua área, após um ataque rápido do Sporting. Depois, faz a bola transitar a toda profundidade do campo, acabando por ter, igualmente, boa presença numérica na área do Sporting. Pelo meio, claro, um aspecto decisivo no jogo e que fugiu, durante 90 minutos, ao controlo dos médios do Sporting: o transporte de bola de Enzo Perez. Quanto ao desequilíbrio final da jogada, novamente mérito para Rodrigo, que aproveita a ausência de cobertura no espaço inteiror. Do ponto de vista do Sporting, exigia-se maior proximidade de um médio naquela zona, mas a velocidade do lance atrasa a recuperação de Adrien, e a densidade de jogadores do Benfica na área, atrai Dier para uma zona mais central.

5 - A primeira nota sobre o lance final - que contempla duas situações sucessivas e termina com o segundo golo - vai para a organização defensiva do Sporting nesta fase do jogo. Foi uma situação que durou pouco tempo, entre a entrada de Magrão e o segundo golo do Benfica, tendo havido uma rectificação após esse momento, numa conversa entre Jardim e Dier focada pela transmissão televisiva (e que teve até, aparentemente, alguma discórdia entre os dois). O facto é que neste período, o Sporting pareceu jogar com 3 centrais, baixando Dier e colocando Magrão sobre o corredor esquerdo. Fica a dúvida, até pela tal conversa entre o treinador e central, sobre qual a intenção para esta fase do jogo, mas talvez a ideia fosse jogar com 3 defesas, projectando ofensivamente os laterais. Seja como for, claramente a equipa não estava devidamente preparada para o fazer, tal como revela o primeiro desequilíbrio na jogada. Havendo maior presença na última linha, parece existir também maior liberdade para os centrais saírem da sua zona, resultando no paradoxo de ser precisamente quando tem mais unidade nesse sector que o Sporting mais se expõe na zona central da sua última linha. A explicação está no facto de Dier e Rojo se permitirem abandonar, em simultâneo a sua posição.
Posteriormente, a nota principal vai, de novo, para aquilo que acontece no momento de transição defesa-ataque do Sporting, com a bola a ser perdida para a reacção à perda do Benfica. A meu ver, mais censurável a decisão de Magrão, que fecha o jogo na linha, uma zona onde o Benfica estava perfeitamente preparado para reagir. Na sequência, o passe interior de Rojo também parece uma decisão questionável, culminando numa perda de bola que determina o desequilíbrio que a seguir se gera, nomeadamente pela desorganização da defensiva do Sporting, criando uma situação de 1x1 que Dier teria muitas dificuldades em controlar (em parte devido ao contraste entre as suas características e as de Enzo Perez). Note-se que os dois golos surgem em situações em que a defesa do Sporting está momentaneamente desorganizada, após a equipa ter perdido a bola na transição defesa-ataque.

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