20.2.14
Champions, oitavos-de-final (II)
Arsenal - Bayern
O estatuto actual do Bayern fazia com que a vitória forasteira fosse, à partida, o cenário mais expectável. É indiscutível a justiça do desfecho, mas confesso-me pouco impressionado com a exibição da equipa de Guardiola. Talvez a culpa seja das elevadas expectativas...
Sobre o Arsenal, creio que dificilmente será uma equipa com ambições reais de chegar muito longe nesta prova ou mesmo de conquistar o título interno. Tem uma boa equipa, sem dúvida, mas não o suficientemente para rivalizar com outros concorrentes, sendo que do ponto de vista táctico, por outro lado, se observam limitações importantes e que, na minha leitura, condicionam muito as possibilidades de superação da equipa. Em particular, o espaço entrelinhas, pela facilidade de desposicionamento dos médios, e que foi notoriamente contemplado na estratégia de Guardiola para este jogo.
De resto, Wenger mostrou-se bastante cauteloso na abordagem à partida, particularmente arriscando muito pouco em termos de construção, onde apostou quase tudo numa ligação longa para tentar jogar a partir da segunda-bola, quase sempre sobre o corredor direito. É verdade que esta iniciativa obteve uma eficácia assinalável - também, a meu ver, por algum défice na resposta do Bayern - mas parece-me questionável o ênfase dado a esta solução. O Bayern arrisca muito em termos de pressing em organização defensiva, e sendo certo que qualquer desafio representa um risco, parece-me igualmente que o Arsenal teria qualidade suficiente para se propor algo mais neste plano. De resto, e como tento mostrar no vídeo, foi por essa via que a equipa de Wenger começou por criar mais problemas ao seu adversário, nos minutos iniciais.
Quanto ao Bayern, e como já referi, Guardiola focou muito a sua estratégia no aproveitamento do espaço entrelinhas, com a colocação interior dos extremos e com um deles quase sempre nas costas dos médios do Arsenal. A ideia - parece-me - seria manter os médios inicialmente mais baixos, de forma a atrair o duplo-pivot dos 'Gunners' através da circulação baixa para, depois, aproveitar o espaço criado nas suas costas. A verdade é que, e mesmo conseguindo alguns bons períodos de circulação, o Bayern teve dificuldades em encontrar os espaços essenciais que intencionalmente procurava, acabando por se dar o paradoxo de ser numa das raras ocasiões em que Robben protagonizou o seu movimento mais clássico - da direita para o meio - e sem ninguém entrelinhas, que o Bayern abriu o caminho para o triunfo.
Mas as minhas principais reticências relativamente ao Bayern não vêm daquilo que faz com bola, onde a qualidade é obviamente muito elevada - ainda que existam alguns aspectos que não tenha gostado tanto desta vez. Defensivamente, a equipa parece-me facilmente exposta na sua última linha, havendo muito pouco apoio oferecido por elementos de outros sectores (a excepção é o pivot). É certo que a equipa é forte no condicionamento mais alto e que é difícil ultrapassar sistematicamente essa barreira sem correr riscos importantes, mas é também bom recordar que o Bayern foi campeão europeu utilizando um estilo completamente ao que é hoje praticado, nomeadamente na eliminatória com o Barça. A minha dúvida reside no que acontecerá perante a reedição desse tipo de confronto, ou seja perante uma equipa que possa rivalizar em termos de qualidade na presença em posse, havendo a convicção de que, desta vez, Guardiola manterá por certo a identidade da sua equipa. É, provavelmente, a maior curiosidade que tenho para esta edição da Champions, e espero que o sorteio nos presenteie a todos com esse brinde...
Milan - Atl.Madrid
Quem olhasse para este jogo de uma forma descontextualizada, isto é não conhecendo o trajecto recente das duas equipas, estranharia por certo o enorme favoritismo atribuído aos visitantes. Nem o Atlético tem um historial que o justifique, nem tão pouco em termos de valores individuais se encontra uma evidência explicativa para este "fenómeno". A verdade, porém, é que David e Golias inverteram os papeis num espaço de tempo muito curto, e era sobre o Atlético que estavam depositadas as maiores expectativas. Fazendo justiça à equipa de Seedorf, o Milan não merecia o castigo da derrota. Não que tivesse sido superior ao Atlético, mas porque conseguiu quase sempre controlar o seu opositor e, num par de ocasiões, estar ela própria muito perto de marcar.
De resto, este foi um jogo essencialmente equilibrado, o primeiro nestes oitavos-de-final onde ambas as equipas deram prioridade ao controlo dos espaços essenciais. É claro que o Atlético mostrou mais qualidade em termos tácticos, nomeadamente sendo capaz de seleccionar melhor as situações onde era, ou não, possível pressionar a todo o campo. Em termos de comportamento com bola, porém, a equipa de Simeone não foi tão competente e apenas na segunda parte conseguiu ser mais consistente nesse particular. O Atlético tinha neste embate um desafio importante (que não está ainda concluído, note-se), porque surgia na sequência de uma fase menos bem sucedida em termos de resultados, e onde a confiança podia ser uma fragilidade adicional. Para já, e com alguma sorte, a equipa sobreviveu ao desafio, mantendo-se como 'dark horse' em duas corridas simultâneas. Será capaz Simeone de dar continuidade ao sonho/milagre, mantendo-se até ao fim na luta pelos dois mais difíceis troféus do futebol europeu? Em princípio, dir-se-ia que não mas, chegados aqui, o melhor é mesmo desconfiar...