12.2.14

Benfica - Sporting (I): notas colectivas

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Conto, nos próximos dias, apresentar novas análises ao jogo, nomeadamente com os dados estatísticos, opiniões sobre exibições individuais e uma revisão de alguns aspectos tácticos do jogo (vídeo). Não me sendo possível apresentar já essas análises mais detalhadas, deixo umas primeiras notas de opinião sobre as duas equipas.

Benfica - Foi mais um bom jogo do Benfica, provavelmente dos mais bem conseguidos desta temporada, e com um resultado que, sendo bom, peca por escasso. Muito do que se passou no derby, e da enorme diferença de rendimento entre as equipas, será abordado a partir do demérito do Sporting, porque é normalmente assim que acontece e porque neste caso foi Jardim quem mais mexeu. Na minha leitura, porém, a incapacidade do Sporting deve-se, em primeira instância, à qualidade do Benfica. Distingo, aqui, alguns pontos a este respeito: 1) a fase de construção, decisiva na definição do enorme domínio que o Benfica teve, com evidência para o papel dos centrais e para a capacidade de transporte e envolvimento de Enzo Perez. 2) a intensidade e agressividade nos duelos, muito em especial na reacção à perda, várias vezes o ponto de partida para acções de ataque-rápido de grande potencial. 3) a mobilidade ofensiva, porque mesmo garantido o domínio pelos dois pontos anteriores, só é possível aproximar-se com tanta frequência do golo se essa qualidade existir. Invariavelmente, o foco das discussões vai para as opções tácticas, mas é quase sempre na eficácia da interpretação das ideias que se define a validade das mesmas. Por isso é que é mais fácil ter melhores ideias com melhores jogadores, e por isso também é que as opções tácticas de Jesus prevaleceram neste derbi.
Havia escrito aqui, após o final do ciclo-Champions, que previsivelmente o Benfica melhoraria neste período. Não era um dado adquirido, claro, mas antes uma probabilidade que deriva do que se viu nas épocas anteriores do Benfica de Jesus. O Benfica melhorou e chegou à liderança, sempre com o 4-4-2, por quase todos diabolizado. A meu ver - e como fui escrevendo - foi a melhor opção, e se muitas vezes vejo treinadores a ceder a análises pouco consistentes que se generalizam externamente, este é um episódio que reforça o meu apreço por Jesus. Enfim, o Benfica partirá, em breve, para um novo ciclo da temporada, numa posição muito favorável - novamente! - para ser campeão. O problema não é tanto a sobrecarga de jogos, até porque não tenho dúvidas de que a Liga Europa será relegada para segundo-plano. O problema são os 3 jogos com o Porto, onde a tentação de queimar energias é maior e onde se poderá perder o foco relativamente à competição principal. Foi sempre quando as prioridades entre competições ficaram menos definidas que o Benfica de Jesus perdeu pontos decisivos na corrida ao título. Veremos o que sucede desta vez...

Sporting - A leitura que fiz sobre a estratégia de Jardim confirmou-se em pleno, com Martins à direita e Montero ao meio, e isso poupa-me algum texto para explicar o porquê de ser expectável que fosse assim que o treinador iria dispor as suas peças, e o que poderia ganhar e perder com essa opção. A má notícia para o Sporting é que, na prática, pouco ganhou, acabando praticamente por só perder com a estratégia escolhida. Porque, mesmo com Slimani como referência, teve pouca eficácia na construção longa. Porque raramente conseguiu potenciar o 2x2 com os centrais do Benfica (através da colocação de uma unidade mais central, Montero, e próxima do avançado). Porque o seu jogo exterior ficou completamente descaracterizado, sendo que tal como havia escrito na antevisão, sentiu-se muito impacto que tiveram na fase de construção, a perda de um o pé canhoto para a habitual ligação do jogo ao longo do corredor esquerdo (uma solução que, recorde-se, causou muitos problemas ao Benfica no jogo da primeira volta), e também a perda da mobilidade de André Martins sobre o corredor direito, nomeadamente nos movimentos em profundidade, nas costas do extremo. Por fim, e como se não bastasse, também porque não teve William, com Dier a confirmar outro ponto abordado na antevisão: o péssimo critério que vem mantendo com a bola nos pés.
Num outro capítulo, que eu não abordei na antevisão mas que teve forte impacto no jogo e que foi referido pelo próprio Jardim após a partida, o Sporting poderá também ter perdido qualidade na presença pressionante da sua primeira linha, nomeadamente por ter retirado André Martins dessa zona. Não é certo que tenha sido decisivo, porque o Benfica esteve realmente muito bem em construção, mas parece-me - e aqui sim, à posteriori - que poderá ter feito falta um elemento de maior intensidade/agressividade nessa zona, como é André Martins. 

Jardim deu-se mal, é certo, e muitas das suas opções são questionáveis porque muitos dos problemas da sua estratégia eram previsíveis. No entanto, devo fazer duas ressalvas em favor do treinador do Sporting - ou, melhor, em desfavor de muitos dos seus críticos!: 1) o onze era conhecido desde domingo, mas poucos foram aqueles que anteciparam os problemas desta aposta. Aliás, foram bem mais os elogios ao arrojo do treinador, por este incluir 2 avançados de inicio neste jogo. 2) Como esclareceu o próprio treinador, não houve mudança de sistema com estas alterações. Falar de uma mudança de 4-4-2 para 4-3-3 só é possível para quem não conheça a forma de jogar do Sporting. Jardim mudou características individuais, e forçosamente algumas intenções colectivas, mas não mudou o sistema!

Esta é uma derrota, por todos os motivos, muito penalizadora para o estado de ânimo do Sporting. Num dérbi, numa exibição que deixa a ideia de impotência e numa situação em que a possibilidade da liderança se transforma, de repente, num terceiro lugar. Mas, não faço qualquer "lapalissada" com o calendário quando digo que a época do Sporting não acaba aqui. Faltam jogos e pontos suficientes para que o título, estando obviamente muito mais complicado, esteja longe de ser uma mera hipótese matemática. É claro que me parece que o Sporting tem entrado em alguns equívocos, que não vêm apenas deste jogo, mas de toda uma ideia em torno dos planos A e B, que foi marcando os últimos jogos. Na minha opinião, o Sporting deverá partir sempre da sua identidade e dos seus pontos fortes, que foram afinal o alicerce do sucesso vivido durante grande parte da época. O sucesso do plano B, aplicado sempre em períodos curtos e específicos dos jogos, trouxe pontos importantes, é certo, mas trouxe também aquilo que na minha leitura é a ilusão de um caminho que, sendo possível, será sempre mais longo e de menor probabilidade de sucesso. O Sporting tem deixado de apostar numa evolução a partir dos pontos fortes, em favor de uma ideia de jogo que se encontra num ponto necessariamente bem menos avançado, tendo por isso muito menos qualidade. Essa parece ser a tentação de Jardim, com a aprovação de grande parte dos adeptos e comunicação social, mas pessoalmente tenho muitas dúvidas de que seja por aí o melhor caminho...

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