24.6.11

Leitura e consequências da saída de Villas Boas

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1- Noutro contexto, a Europa olharia desconfiada para Villas Boas e não lhe abriria tamanha oportunidade "apenas" com uma Liga Europa. A "febre Villas Boas" teve como catalisador de reacção, a herança de Mourinho. Não apenas por ter saído da sua equipa técnica, mas sobretudo porque a experiência de Mourinho conseguiu resultados extraordinários e que ainda estão bem presentes na memória de todos. Ou seja, não fossem as sucessivas declarações de Villas Boas, despistando o interesse no "salto", e este seria um cenário há muito antecipado por todos, fosse o destino o Chelsea, ou qualquer outro "tubarão".

2- O Chelsea é, a meu ver, uma das equipas que melhores recursos individuais tem na actualidade. Melhores do que os rivais internos, por exemplo. Recursos que, com Villas Boas, têm tudo para reassumir favoritismo principal na Premier League e reentrar na corrida pelo topo europeu, estatuto que, por estes dias, apenas o Real Madrid parece ser capaz de discutir com o Barcelona. Para o interesse do futebol europeu de topo, parece-me uma boa notícia.

3- O primeiro grande interesse sobre Villas Boas, estará na sua opção pelo modelo de jogo. Levará com ele o 4-3-3 do Porto, procurando depois os jogadores ideais? Eu arrisco que não. Arrisco que a sua orientação passará por identificar as mais valias que tem (e poderá ter), e que será a partir delas que definirá o seu modelo. Delas, e do contexto "Premier" do jogo, claro. Essa é orientação metodológica que penso que seguirá na definição do modelo (e que, sem prejuízo deste raciocínio, poderá redundar algo que utilize a mesma estrutura, 4-3-3), mas não me atrevo a projectar qual possa ser a resposta final...


4- Se a orientação metodológica que descrevi no ponto anterior estiver correcta, não fará sentido encarar a postura de Villas Boas no mercado como demasiado centrada no alvo "A" ou "B". Ainda que seja essa a ideia que a comunicação social passou, assim que a sua mudança se tornou eminente. Duvido, neste sentido, que Villas Boas esteja ansioso por trocar Torres. Pelo contrário, acredito que gostasse de ter com ele Falcao, mas não para perder o espanhol.

5- Curiosas, as primeiras declarações de Villas Boas, de novo salientando a importância da "estrutura", do trabalho herdado, e da sua própria modéstia em termos de contributo para o sucesso. Algo que, sucessivamente, se ouviu dele enquanto treinador portista.

6- Discordo da opinião geralmente difundida de que a saída de Villas Boas seja boa para o interesse da Liga. Primeiro, porque acho difícil que se conclua um raciocínio que assenta na tese da perda de qualidade, com o adjectivo "interessante". Não faz sentido. É como achar que a II Liga é mais "interessante" do que a I Liga por ser mais equilibrada, ou que a qualidade não tem "interesse". É o culto da mediocridade.

7- O segundo motivo por que não concordo com o raciocínio de que a perda de Villas Boas deixa a Liga portuguesa mais "interessante", tem a ver a suposição de que o Porto ficará substancialmente mais fraco. Primeiro, não é preciso muita memória para perceber o quão errado pode ser subestimar a capacidade de regeneração dos portistas. Aliás, se há coisa que o tempo prova é que o sucesso continuado do Porto não tem a ver com a unicidade dos seus sucessivos protagonistas. Sem que isto desfaça, realmente, o carácter único de muitos deles. Depois, porque desta vez a alteração nem parece abrir grandes fendas do ponto de vista metodológico/filosófico. Vitor Pereira era o elemento mais próximo de Villas Boas e o seu discurso (mesmo anteriormente à convergência profissional) apontava para ideias muito parecidas. A única hipótese - e excluindo aqui eventuais saídas de jogadores - de haver uma rotura grande será do ponto de vista de liderança, mas esse nunca foi visto como um ponto que distinguisse o agora técnico do Chelsea.

Diria que enquanto os seus rivais continuarem a olhar demasiado para o Porto, seja pela tentativa de cópia, seja pela esperança do eternamente adiado ponto de inflexão negativo, o mais provável é que o pódio do futebol português, mais excepção, menos excepção, permaneça inalterado.

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