6.6.11

Análise Portugal Noruega: Estatística e opinião

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1- Há que o reconhecer de forma clara: não foi o bom jogo da Selecção. Portugal foi dominador, chegando até a patamares raramente elevados, em termos de volume e certeza em posse. Para além disso, foi também uma equipa que conseguiu asfixiar o adversário, através de uma forte presença na reacção à perda (Meireles, em enorme destaque neste plano!). Porque é que, então, não fez um "bom jogo"? Convém, antes de mais, ressalvar que a classificação de "bom" ou "mau" vem sobretudo das expectativas e, neste caso, da constatação de que, face ao volume e domínio de jogo que a equipa conseguiu, seria desejável que conseguisse, também, um muito maior desnível no que respeita à proximidade real com o golo. Mas, não foi isso que aconteceu. Para explicar os detalhes da análise que faço, seria ideal recorrer a imagens. Por uma questão de gestão de tempo, porém, os próximos pontos vão ser tudo o que vou deixar sobre o assunto.

2- Com Paulo Bento, e em termos de qualidade táctica, Portugal ganhou sobretudo capacidade pressionante. Ou seja, é uma equipa mais autoritária, pela capacidade que tem na reacção à perda, e mais preparada para potenciar o erro adversário, pelo que faz perante a construção contrária. Isto chega para fazer de Portugal, hoje, uma Selecção muito mais forte do que era no passado. Mas, há vários aspectos a melhorar noutros patamares de organização.

3- Começando por aquilo que fez em ataque posicional, já que, neste caso, foi praticamente impossível atacar de outra forma. A meu ver, o grande problema da Selecção esteve na dinâmica colectiva nas zonas próximas da área. Pedir-se-ia maior capacidade de envolvência nas zonas laterais, mas frequentemente houve poucos apoios formados nessas zonas. Isto acontece, porque não há uma orientação clara em termos de dinâmica de relacionamento entre extremos, laterais, mas, sobretudo, médios, nos corredores laterais. As situações de cruzamento foram, sem grande surpresa, aquelas que mais problemas causaram, e que, de resto, valeram o golo decisivo, mas apenas quando Ronaldo fazia movimentos (que lhe são característicos) de integração na zona de finalização, Portugal pareceu, realmente, conseguir criar problemas de controlo à defensiva norueguesa. O que Portugal conseguiu foi, sobretudo, potenciar finalizações de fora da área e situações de bola parada, o que parece francamente pouco.

4- Para além do capítulo ofensivo, é importante também notar que, para o volume de jogo que teve, Portugal se expôs em demasia. Isto é, garantindo uma presença forte na reacção à perda, seria de evitar as duas situações claras que se permitiram à selecção norueguesa. Isto aconteceu, primeiro, porque não houve a concentração ideal em certos momentos e, depois, porque se notaram igualmente algumas dificuldades no ajuste posicional. O primeiro lance de golo norueguês, nasce de uma acção de ataque rápido após um pontapé de canto favorável a Portugal. Os jogadores foram rápidos a recuperar, mas devia ter havido outra prudência, dado que Meireles estava fora e, ainda assim, foram colocados os mesmos cinco jogadores em situação de finalização, limitando a presença posicional fora da área. O segundo lance, vem de uma situação que os noruegueses exploraram várias vezes e à qual Portugal respondeu quase sempre mal. Ou seja, uma variação de flanco em zona baixa, que não só libertava a possibilidade de cruzamento largo para a área, como desorganizava o bloco português, que denotava, aí, dificuldades em fazer, rápida e eficazmente, os ajustes posicionais que se exigiam...

5- Duas notas no capítulo individual. A primeira para o papel do avançado. Discute-se sempre muito antes dos jogos da Selecção sobre o perfil do jogador escolhido para este papel. A discussão, em teoria, faz sentido, mas eu continuo a ter dificuldades em observar, na prática, os motivos para tanto debate. Neste caso, a utilidade de Postiga fez-se sobretudo pela resposta ao cruzamento que deu o golo, e pela presença em algumas situações de transição (sobretudo na parte final do jogo). De resto, a sua presença em apoio foi escassa e, objectivamente, sem grande capacidade de consequência. A outra nota é sobre o papel de Carlos Martins/Ruben Micael. Foi curto o tempo, mas em várias jogadas deu a ideia do médio do Porto estar muito mais preparado para jogar neste sistema, nomeadamente em termos de posicionamento defensivo. Não é surpresa, já que Micael treina e joga num modelo que usa a mesma estrutura. Para mim, seria um dado decisivo na escolha entre os dois...
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