5.9.06

Pauleta - Justiça ao Açor

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Setembro de 2006 ficará para sempre registado na história da Nossa Selecção como o momento da passagem definitiva do testemunho deixado pela mais bem sucedida geração de jogadores que o nosso país alguma vez teve. Nomes como Vitor Baía, Fernando Couto, Rui Costa, João Pinto ou Luis Figo ficarão para sempre na memória dos que os viram jogar, sendo – muito justamente – lembrados pelo prestigio que restituíram à camisola das Quinas, algo desrespeitada durante épocas a fio. Há, no entanto e no meu ponto de vista, um nome cuja imagem e reputação não terão sido tão condizentemente bem vistas por entre a generalidade da opinião pública: Pedro Pauleta!

A contribuição mais relevante para este facto advirá – estou certo – das prestações menos conseguidas pelo “Ciclone” nos momentos chave dos últimos dois grandes torneios em que a Selecção interveio. Não se pode porém dissociar um certo fenómeno de “orfandade pública” em que Pauleta incorre pelo simples facto de, ao contrário da generalidade dos grandes protagonistas do Futebol Português, não ter integrado os escalões mais jovens da Selecção e, sobretudo, não estar conotado com nenhum dos 3 grandes clubes Nacionais. Por estes motivos, e com a evidente excepção dos seus conterrâneos Açorianos, Pauleta nunca gozou do mesmo proteccionismo emocional de outras vedetas do nosso Futebol, estando também por isso os seus feitos algo subavaliados entre os Portugueses – Injusto, digo eu!

Uma carreira de golos
A carreira clubística de Pauleta é inegavelmente marcada por três factos: (1) a sua ascensão atípica, nunca tendo actuado sequer no primeiro escalão nacional; (2) a regularidade notável com que conseguiu marcar golos; (3) a dimensão heróica da sua passagem por França.
Relativamente ao segundo ponto evocado, a estatística é clara: Pauleta mantém, ao cabo de quase 500 jogos, uma média de golos por jogo que ronda os 52% - registo que é tanto mais espantoso se considerarmos que entre diversos clubes em que passou, a média mais baixa foi verificada na Corunha (33%) onde, apesar de menos utilizado, marcou um golo em cada 3 jogos.
No que se refere à sua passagem (ainda em curso) por terras gaulesas os feitos do Açoriano têm sido repetidamente exultados pelos ‘media’, sendo ainda assim – aqui e ali – desvalorizados por uma suposta menor qualidade do Campeonato Francês. Ideia errada e facilmente desmistificada se atentarmos aos nomes e respectivos registos dos diversos atacantes que evoluiram em edições recentes do “Championat”. De Henry a Drogba – incluindo muitos outros – apenas 1 conseguiu superar (marginalmente) o registo de Pauleta em França: Sonny Anderson, com as suas passagens por Marselha, Mónaco e Lyon, intercaladas por uma experiência algo decepcionante no Camp Nou.


O melhor da era “a cores”
Independentemente de toda e qualquer opinião sobre o serviço prestado por Pauleta à Selecção, há um marco cuja factualidade não deixa margem a discussões: 47 golos representam um novo máximo de golos por Portugal. Também neste ponto há quem se apreste a “saldar” os méritos do Açoriano com o argumento do número de jogos a que Pauleta teve acesso... Pois bem, também aqui a estatística é favorável ao “Ciclone” que é – entre os jogadores com mais de 10 golos – apenas superado pelos fenomenais registos de Eusébio e Peyroteu. Se tivermos em conta a diferença entre as realidades do futebol ao longo das décadas, não será descabido considerar Pauleta como – quantitativamente e qualitativamente – o melhor avançado Português da era da “TV a cores”!




O Porquê das exibições menos conseguidas...
Naturalmente e apesar de reconhecer todos os méritos acima elencados, não posso ignorar as prestações menos conseguidas por Pauleta nas últimas duas grandes competições internacionais. Julgo no entanto que mais do que circunstanciais momentos de quebra de rendimento ou mesmo menor capacidade perante exigências superiores, o fenómeno da cadência exibicional de Pauleta pode ser justificado pelo relacionamento entre a sua genética futebolística, o modelo de jogo português e a estratégia defensiva preferencialmente adoptada pela generalidade das Selecções que, nos referidos momentos, nos defrontaram (Casos de Inglaterra, Grécia ou França)... Isto é, Pauleta é um avançado que gosta de jogar “nas costas”, de aproveitar o momento em que o defesa coloca os olhos na bola para conseguir o espaço em que é fatal, enfim, é um avançado estritamente finalizador e que apresenta lacunas quando lhe é pedido que participe na construção ou criação de jogo (características antagónicas, por exemplo, às de Nuno Gomes). Ora foram precisamente este tipo de tarefas que lhe foram pedidas por um ataque criativo, que jogava – e joga – fundamentalmente em apoio e que se deparava com defesas “baixas” e equilibradas que não concediam quaisquer espaços entre a última linha defensiva e o espaço de intervenção do Guarda-Redes...

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