26.9.06

O estilo directo - mais do que um "recurso"

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No habitual e sempre interessante espaço que Luis Freitas Lobo protagoniza no jornal ‘A Bola’, o comentador dedica o seu principal artigo ao “pressing” e à forma como as equipas o devem evitar. Numa análise atenta aos processos da primeira fase de construção de jogo de grandes equipas como Milan, Barcelona ou Lyon, é enfatizado o jogo curto e apoiado como uma espécie de via única para contrariar a pressão incómoda que é feita por cada vez mais formações no futebol mundial. No último parágrafo o autor refere-se à hipótese do futebol directo da seguinte maneira:

“Outra forma de saltar o pressing seria o jogo directo mas tal processo só pode ser um recurso. Mesmo que recorram a esse pontapé longo, ele deve ser acompanhado, automaticamente, pela velocidade...”

Curiosamente, no dia anterior o diário madrileno ‘As’ publicava uma entrevista de Fabio Capello com o título: “El toque, toque, toque... es el ex-futbol” – uma frase proferida pelo treinador italiano em defesa das críticas que acusam o Real de praticar um futebol pouco elaborado. Capello advoga que no futebol moderno as equipas devem privilegiar a velocidade e objectividade na concepção dos seus processos ofensivos.

Uma das mais populares pareceres favoráveis a uma abordagem mais directa do jogo foi feita por Charles Hughes no seu livro “The Winning Formula” (1990). Naquela obra é apresentado um estudo em que se conclui que 85% dos golos são obtidos após jogadas com 5 ou menos passes. Hughes apoia-se nesta impressionante estatística para concluir que o estilo directo é o ideal para conseguir a ambicionada “Fórmula Vencedora”.

Pessoalmente, creio que o estilo que curiosamente dá nome a este blog deve ser parte integrante das soluções ofensivas das equipas, representando nesses processos bem mais do que um mero “recurso”. Esta forma de atacar permite a colocação repentina da bola em zonas menos protegidas, disposicionando momentaneamente o bloco defensivo contrário. Variações em largura, aproveitamento da acção do ‘pivot’ no espaço entre-linhas e lançamentos em profundidade são acções desconcertantes promovidas exclusivamente por este tipo de abordagem ofensiva.
Estou inteiramente de acordo - note-se - que não há forma mais diferenciadora de atacar do que ‘cortar linhas’ em progressão apoiada. No entanto, para que tal possa acontecer – e como refere L.F.Lobo – é necessário uma grande capacidade técnica dos protagonistas. Acontece porém que serviços como os de Deco, Juninho ou Pirlo pagam-se – seja em que moeda for – muito caro, não estando ao alcance de todos tal requinte. Por outro lado, a tentativa de assumir o ataque exclusivamente em construção apoiada mas com intérpretes de “segunda classe” poderá ter um preço elevado. O risco de transição descompensada, em caso de perda de bola, é evidente. Creio, portanto, que o sucesso ofensivo das equipas poderá ser maximizado por uma variação de abordagens: o estilo directo para aproveitar espaços no bloco (seja na profundidade, na largura ou no espaço entre-linhas) e ataque em apoio para blocos menos compactos ou declaradamente recuados.

Em seguida apresento 3 exemplos de golos que, no passado fim de semana, resultaram a partir de uma abordagem ofensiva directa:

Golo do Lyon: Espaço entre linhas e acção do 'pivot'


- Perante a pressão activa (1) e um bloco organizado a solução de passe procura Fred no espaço entre linhas. Entretanto, Juninho ocupa uma posição aparentemente inofensiva (2).
- O passe encontra Fred que trabalha (3), de costas para a baliza ('pivot'), o melhor momento para soltar a desmarcação súbita de Juninho (4). A rápida superioridade numérica na linha mais recuada da defesa do Lille vai proporcionar a Juninho uma caminhada livre para o golo.

Golo do Inter: Espaço nas costas


- Dacourt trabalha a bola (1) perante um bloco organizado do Chievo e uma pressão eminente. Entretanto, Crespo parece estático junto à adiantada linha defensiva do adversário.
- Antes que o passe possa ser impedido Dacourt faz o lançamento. Sem dar tempo de reacção para à defesa, o movimento próactivo de Crespo (3), isola-o em fracções de segundo. Segue-se o golo.

Golo do Liverpool: Largura ofensiva


- Perante um bloco estreito e com uma primeira linha pressionante de 4 homens, Xabi Alonso (1) descobre a largura dada ao ataque por Gerard sobre a direita (2).
- O Inglês tem tempo para receber a bola e, quando o faz, é perceptível o espaço de que goza para poder trabalhar o lance (3), perante um flanco descompensado. No centro (4), Gonzalez vai finalizar o falhanço de Bellamy após cruzamento de Gerard.

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