14.8.06

O "Xeque ao Rei" de Adriaanse

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O FCP viu-se na posição embaraçosa de estar “de mãos atadas” perante os desabafos provocatórios do seu treinador... O “embaraço Adriaanse” não é então mais do que uma inevitabilidade lógica de uma gestão pouco avisada da SAD portista...a obtenção dos objectivos desportivos em 06/07 não estão ainda em nada comprometidos, no entanto existe um risco inerente a uma não tão rápida adaptação do próximo treinador ao clube e aos jogadores...o que realmente conta são as vitórias e será essencialmente delas que Pinto da Costa, mais do que nunca nesta altura dependerá.

Atentemos à sequência das afirmações:
- "não vamos contratar ninguém" (Pinto da Costa, 27-07-2006)
- "Se não comprarmos um avançado continuaremos a jogar bonito e a perder" (Co Adriaanse, 05/08/2006)

Contextualizando-as é intuitivo perguntar:
- Perante tão evidente rotura entre treinador e direcção, porque razão não foi Adriaanse dispensado a tempo de um planeamento mais eficaz da próxima temporada?

A resposta será a mesma que foi dada pelo presidente azul e branco quando indagado sobre os motivos da não contratação de Hesselink: Dinheiro, ou melhor, a falta dele!

Apenas dois anos após a apresentação do relatório e contas anual mais lucrativo da história das SAD do futebol português, o FCP viu-se na posição embaraçosa de estar “de mãos atadas” perante os desabafos provocatórios de um treinador em clara rotura com a direcção e blindado pela extensão plurianual do seu contrato, altamente valiosa em caso de despedimento antecipado.


(Carregar na imagem para ver evolução das contas da Porto SAD)

O “embaraço Adriaanse” não é então mais do que uma inevitabilidade lógica de uma gestão pouco avisada da SAD portista, incapaz de antecipar uma realidade iminente e previsível e que exigia que o caminho do equilíbrio orçamental fosse trilhado, sobretudo no que respeita ao peso desmesurado dos seus custos com o pessoal – ou seja, os salários de jogadores.
O problema do equilíbrio orçamental das SAD é comum aos três grandes do futebol português, e só a sua resolução permite a independência das receitas extraordinárias – vendas de passes de jogadores - que ano após ano condicionam o nível qualitativo dos planteis. A questão é conceptualmente simples: quando o que se ganha (publicidade, merchandising, direitos televisivos, bilheteira,...) não chega para pagar o que se gasta (salários, manutenção, prémios de jogo, ...), é necessário obter mais valias provenientes da venda de jogadores.
A peculiaridade do caso da Porto SAD deriva do facto do incontornável caminho do equilíbrio orçamental ter sido identificado há já alguns anos sem que, no entanto, tenha sido verdadeiramente percorrido pela sociedade. Por paradoxal que possa parecer, o problema aparenta derivar dos muitos milhões conseguidos no rescaldo das recentes glórias europeias, uma benesse que aparentemente terá ofuscado a visão pragmática da realidade e desviado a SAD do caminho inicialmente delineado ( a prioridade no final de 03/04 passou a ser a “componente variável” das remunerações). O resultado desta “miragem” da gestão portista é, à entrada de 06/07, uma forte dependência das mais valias em vendas de passe de jogadores – provavelmente será hoje a SAD que mais depende deste tipo de receitas entre os 3 grandes – e um valor de capitais próprios bem próximo do registo ao final de 02/03 (ou seja, antes da injecção milionária conseguida com a conquista da Champions). Nesta altura e face ao desequilíbrio corrente que a SAD azul e branca apresenta (-17M€ em 9 meses), o cenário de falência-técnica – capitais próprios negativos - tem de ser encarado como uma possibilidade, o que estando longe de ser um drama de sobrevivência, não deixa de ser um grande embaraço para a reputação da actual Administração.

O período pós-Adriaans
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Face ao exposto não será dificil de perspectivar a importância que os próximos meses terão para Pinto da Costa. A qualidade e capacidade do plantel portista é indiscutível e a obtenção dos objectivos desportivos em 06/07 não estão ainda em nada comprometidos, no entanto existe um risco inerente a uma não tão rápida adaptação do próximo treinador ao clube e aos jogadores – a fase de grupos da Liga dos Campeões começa a decidir-se nos primeiros meses da temporada. Por outro lado, a exigente plateia do Dragão dificilmente tolerará mais uma época como aquela que sucedeu as glórias europeias de José Mourinho. O crédito do líder portista é, ao fim de quase 25 anos, muito e merecido mas o nível das recentes diligências do Presidente parecem distantes de um passado não tão longinquo quanto isso: Os casos da vida pessoal, o envolvimento no caso “apito-dourado”, a súbita incapacidade para gerir e escolher treinadores e a gestão duvidosa no período pós-Mourinho (contestada até pela principal claque portista) terão deixado as suas marcas. Nestas coisas do futebol, porém, o que realmente conta são as vitórias e será essencialmente delas que Pinto da Costa, mais do que nunca, nesta altura dependerá...

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