30.7.06

Época 06/07 - Os primeiros toques

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Para os adeptos é tempo de banhos, sol, sorrisos e sobretudo esperança! Para os que trabalham, o período é marcado pelo contraste entre o peso do fisico e a leveza da mente... uma leveza rara e atípica para os que têm na pressão um modo de vida. Para quem simplesmente anseia por futebol o tempo é de expectativa e de algum vazio proveniente da ausência de futebol propriamente dito. A formação dos planteis, as reportagens sobre os treinos e os ilusórios jogos de preparação podem pouco mais do que oferecer coordenadas dubias para o mapa futebolístico da temporada, mas... é tudo o que temos!

Nota: A análise feita às diferentes equipas tem por base informações sobre o trabalho das equipas que foram publicadas nos jornais desportivos.

FC PORTO
Na Holanda, mais do que os passeios de bicicleta e os já característicos episódios de disciplina à “moda de Co” – tudo em prol da concentração colectiva e disciplina de grupo – houve um estágio com muita bola e exercícios variados com um objectivo central: o desenvolvimento de um modelo que maximize a posse de bola. Para Adriaanse e o jogo do seu FCP houve e haverá duas palavras fundamentais – pressão e transição.

Sistema de jogo
Na época transacta os dragões começaram em 4x3x3, mas foi quando Adriaanse colocou em prática a sua defesa a 3 que, paradoxalmente, a equipa conseguiu defender melhor. Este ano tudo indica que teremos um Porto em 3x4x3 ou 3x3x4 em função do potencial do adversário, sendo que a limitação de recursos disponíveis para fomar uma dupla de atacantes pode condicionar a utilização do 3x3x4 (mais utilizado em 05/06).

Princípios de jogo
Adriaanse fala sempre em golos e espectáculo, o seu modelo responde com uma obsessão pelo domínio da bola, tentando recuperá-la o mais cedo possível através da pressão e da superioridade numérica na zona da bola. Com bola, os laterais e extremos oferecem largura e os avançados e médios (através de movimentos verticais) fornecem a profundidade que torna o “campo grande”. Tudo isto com circulação, preferencialmente pelos corredores.

SPORTING
João Aroso, o complemento fundamental da equipa técnica e do próprio Paulo Bento é o responsável pela preparação da equipa e pela assimilação da filosofia definida pelo líder. O método parece ter sido o treino integrado, utilizando preferencialmente a bola para conseguir os objectivos dos exercícios que podem ser físicos ou tácticos. De resto, o objectivo parece simples: projectar para 06/07 a filosofia implementada na segunda metade da época transacta.

Sistema de jogo
Sem complicações nem invenções, o modelo de jogo de Paulo Bento é para evoluir em 4x4x2, sem extremos, ou seja o popularizado “sistema do losango”.

Princípios de jogo
Paulo Bento tem uma visão simples e pragmática do jogo. O equilibrio e a concentração em 90 minutos são as premissas essenciais da sua equipa. Os mais simplistas dirão que joga para o “um-zerinho” e o facto é que a procura de momentos de transição que possam explorar os espaços e a preocupação sistemática com o equilíbrio da equipa oferece muitas vezes razão ao prognóstico. O objectivo é controlar em lugar de dominar, dando presença e pressão à zona intermédia e esperando pelo erro inevitável do adversário.


BENFICA
No Benfica a pré época tem sido tempo de mudança e apreensão. Mudança na equipa técnica, no modelo, no sistema e na referência... Simão (se é que vai sair...), um extremo que oferece momentos de rotura e velocidade por Rui Costa, um 10 que tem na racionalização do jogo e na qualidade de passe as suas características principais. A preocupação advém naturalmente das prestações no Guadiana e principalmente do jogo com o Sporting. Ainda vamos começar Agosto e se é verdade que o Benfica tinha mais tempo de preparação, o Sporting tem uma forma de jogar que transita da época passada e seria realmente surpreendente se o Benfica se tivesse superiorisado nesta altura. Se for bem acompanhado (na equipa técnica) e se tiver estabilidade, Santos, estou certo, imporá o seu modelo convenientemente, como fez em todos os clubes em que passou (excepto no Panathianaikos)

Sistema de jogo
Santos escolheu o 4x4x2 “losango”, preparou o trabalho e o plantel para essa escolha que teve sempre um pressuposto: a saída de Simão. Porém, no caso do imprevisto acontecer, o sistema, podem estar certos, vai mudar...

Princípios de jogo
Santos gosta de ter a bola, por isso os avançados defendem pressionando bem alto e é a partir das recuperações no meio-campo que as suas equipas procuram e conseguem desequilibrar. De resto a circulação faz-se procurando os espaços entre-linhas e aproveitando a dinâmica entre laterais, médios e avançados. Uma referência para as bolas paradas: já se viu que Luisão poderá ser a referência dos pontapés indirectos, aparecendo “tarde” em zona de finalização e num espaço que lhe é criado por um companheiro.

BRAGA
Carvalhal é novo e terá eventualmente mais tempo, mas a oportunidade que lhe foi concedida em Braga é pouco menos do que um “tudo ou nada” para o jovem professor. Um amante dos métodos que Mourinho também preconiza, Carvalhal preocupou-se, segundo os relatos de quem presenciou, principalmente com os aspectos ofensivos, sendo que a “porta fechada” foi também um dos hábitos dos treinos de inicio de época... Estará a ser escondida a fórmula para o declarado ataque aos três grandes? Uma coisa parece-me evidente: por muitos e bons recursos que possua será já um feito se Carvalhal estiver, na primeira época, à altura do seu antecessor!

Sistema de jogo
Tudo indica que teremos um 4x2x3x1 com extremos e com João Pinto como “pivot” do meio campo ofensivo.

Princípios de jogo
Não foram dadas muitas indicações nas recolhas jornalísticas feitas, apenas o apoio ofensivo dos laterais nas rotinas ofensivas e, previsivelmente, uma equipa que procura assumir o jogo com bola e com a busca da sua posse.



BOAVISTA
Ultrapassado o período traumático do divórcio com o Braga, o “Professor” passou ao tempo das lições... Com um discurso revelador do seu conhecimento e esclarecimento em torno das problemáticas que envolvem a sua profissão, Jesualdo tem sido o principal destaque – digo eu – de toda a pré época, tendo definido e sustentando claramente o que pretende para a sua equipa. Não terá facilidades até porque os recursos não serão os de outros tempos numa equipa em que o exigido é sempre muito, mas não tenham dúvidas da sua capacidade para desempenhar o cargo que lhe é proposto.

Sistema de jogo
Jesualdo simplifica: 4x3x3, à Braga - complemento eu.

Princípios de jogo
Também aqui as semelhanças com o Braga das últimas temporadas não é mera coincidência: O objectivo é “defender (colectivamente) antes de atacar”, fazendo uma ocupação racional e zonal dos espaços e dotando a equipa da inteligência necessária para perceber os momentos em que pode explorar os espaços concedidos pelo adversário, criando assim vantagem ofensiva.


LEIRIA
Domingos é o debutante surpresa da temporada. Com um discurso ambicioso – “objectivo UEFA” – e definindo a ambição de rotura com o Leiria dos contra-ataques para dar lugar ao Leiria do ataque continuado e da posse de bola, Domingos tem tido o papel mais fácil da sua tarefa que é exactamente aquele que antecede o inicio da competição. Não sou futurologista nem ponho em causa as capacidades do ex-goleador – até porque não as conheço- mas infelizmente não acredito muito em discursos de futebol de domínio constante, principalmente em equipas que não os “grandes”...

Sistema de jogo
O que se viu até agora foi um 4x4x2 com dois avançados nas alas, mas não há ainda certezas.

Princípios de jogo
A posse de bola e o domínio constante do jogo foram as declarações de princípio do jovem treinador, ficando igualmente claro o enfoque no ataque lateral. É ainda pouco...


OS OUTROS
De forma genérica, os relatos sobre a pré-época descrevem, numa primeira fase, intensas sessões de treino fisico, dando lugar aos ensaios tácticos que são por sua vez rapidamente substituídos por uma panóplia de jogos de preparação com índices baixos de competitividade...
Em Coimbra, o desafio parece não ser fácil para o bem sucedido Manuel Machado, que já exprimiu as suas preocupações com a pouca evolução demonstrada pela sua equipa sobretudo no que respeita à ocupação colectiva e eficaz dos espaços e à ligação entre os sectores.
Jardel é a palavra mais ouvida para os lados de Aveiro. No entanto, para já Inácio tem dado enfoque à posse de bola e... aos treinos físicos.
Os relatos de Setúbal ecoam uma preocupação essencialmente direccionada para a auto-vitimação, sobretudo no que respeita às limitações orçamentais a que o clube está sujeito para a composição do plantel – não é um bom pronuncio, mais uma vez...
Dos Barreiros vieram algumas das histórias mais curiosas deste período inicial. Primeiro com os banhos em água gelada para ajudar à recuperação e depois o discurso curioso do peculiar Ulisses Morais – o treinador definiu 3(!) modelos opcionais para o seu jogo (para jogar em função do adversário) e, quando instado sobre o que pretendia para o seu Marítimo, Morais não podia ser mais esclarecedor: “uma equipa consciente, sólida e segura, que revele boa capacidade defensiva e ofensiva, em suma, uma equipa completa...”.
Uma das frases mais enigmáticas do periodo foi proferida por José Mota após o jogo com a Académica , afirmando que os seus jogadores tinham tido “Problemas de raciocinio” durante a partida...
Finalmente, da Vila das Aves têm chegado relatos que, embora escassos, deixam perceber a humildade assumida pela equipa de Neca – a ausência de um autocarro para transportar a equipa será mesmo um sintoma preocupante de escassez de receitas de uma equipa que disputa o primeiro escalão de uma liga que pretende estar entre as melhores da Europa.

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