Benfica - Moreirense - O Benfica ganhou e, no final, o triunfo até acaba por deixar pouca margem para contestação, tendo em conta a segunda parte. Mas é inegável que o Moreirense conseguiu um excelente primeiro tempo, canalizando a construção do Benfica para as zonas que lhe interessavam (corredores laterais), onde definia zonas de pressão que lhe eram favoráveis para a recuperação da bola. Bom jogo defensivo do Moreirense, sem dúvida, que no entanto nunca teve a mesma correspondência ao nível da capacidade para ter bola, e que por isso acabou por ceder progressivamente terreno ao Benfica, o que acabou por ser o factor fundamental para o desmontar da resistência. Nota, no Benfica, para a variante específica de 14/15, com o exacerbar das trocas posicionais entre Gaitan e Talisca, o que poderá ajudar Talisca a respirar melhor, mas que acabará igualmente por retirar profundidade e presença no último terço à equipa. A este respeito, a alternativa possível parece nesta altura única e tem um nome: Jonas. Mais atrás, problemas ao nível do envolvimento na fase de construção, claramente controlada pelo Moreirense na primeira parte, e também na coordenação da linha defensiva, algo sobre o qual já havia escrito na sequência do jogo com o Zenit, voltando a surgir alguns lances a denotar algum trabalho a fazer. Um deles, mas não o único, foi o do golo.
Gil Vicente - Sporting - A eficácia, que tanto penalizou a equipa nos jogos caseiros, beneficiou agora o Sporting, com dois remates certeiros em tantas tentativas, logo a abrir a partida, e praticamente resolvendo-a. Esta questão da eficácia não tem de ser tão vaga ou abstracta como é geralmente tratada. Por exemplo seguindo o critério de análise que venho mantendo relativamente a ocasiões de golo, dificilmente as equipas terão níveis de eficácia drasticamente diferentes no final de uma época. No curto prazo, porém, isso não só pode, como é normal que aconteça, e por mais que se procurem justificações para esse tipo de fenómenos, nenhum o explicará melhor do que a simples e frustrante aleatoriedade do jogo. Relativamente ao Sporting, a equipa claramente mudou com a entrada de Nani, passando a ter muito mais capacidade de penetração no corredor central, o que lhe traz um potencial ofensivo assinalavelmente superior ao da época passada. Está certo que se deve orientar o foco para o lado colectivo do jogo, mas aqui temos um bom exemplo de como um só jogador pode mudar tanto na qualidade ofensiva de uma equipa, até aqui praticamente dependente das acções pelos corredores laterais. Por muito que seja só um jogador, é escusado desvalorizar o peso individual que tem Nani no Sporting 14/15, porque ele é de facto muito. Mais 2 notas sobre o Sporting. A primeira, para João Mário, que conseguiu um bom jogo mas que, pelo menos para mim que não o conheço o suficiente, não chega para concluir que representará uma mais valia clara em relação a André Martins. A segunda, sobre o desempenho defensivo da equipa, que me continua a parecer algo exposta a perdas de bola no corredor central e com alguns problemas de resposta por parte dos seus defensores, relativamente à exigência de jogar uns metros mais à frente comparativamente com o ano anterior. Tudo aspectos rectificáveis através do treino, sendo bom que Marco Silva o consiga fazer, até porque nem todos os adversários serão tão frágeis quanto foi o Gil Vicente.
Porto - Boavista - No Dragão, um resultado verdadeiramente surpreendente. Tinha a expectativa de que este pudesse ser um dos embates mais desequilibrados do campeonato, e paradoxalmente o jogo acabou por acentuar essa minha ideia, apesar do resultado contraditório. Isto pelas dificuldades denotadas pelo Boavista, mesmo jogando tanto tempo em superioridade numérica, e com tanta dificuldade em conseguir ter uma melhor afirmação territorial no jogo. E, se me espantou o domínio que o Porto conseguiu jogando em inferioridade numérica, não me espantou menos o número relativamente reduzido de ocasiões claras de golo que conseguiu, sendo este muito baixo para tanto volume de jogo. Aliás, este não é um problema novo na temporada portista, que vem combinando um domínio territorial quase sempre avassalador com uma proximidade com o golo relativamente modesta para as expectativas. Um aspecto que Lopetegui terá de corrigir, o que não será tarefa fácil se continuar a negligenciar o jogo interior, como parece que é sua intenção. A propósito, este empate e a perda de liderança fizeram surgir o primeiro foco de criticas mediáticas ao treinador espanhol. Sobre a rotatividade, devo dizer que desde que não haja perda de qualidade individual nessa gestão (nomeadamente, mantendo as principais figuras, o que Lopetegui vem fazendo), não vejo nenhum argumento com força suficiente desequilibrar a balança da discussão. O treinador "acha" que não é relevante, outros "acharão" o contrário. Enquanto estivermos no domínio do que cada um "acha", sem um suporte argumentativo ou factual mais sólido, ninguém poderá reclamar ter a razão do seu lado. Quanto ao resto, parece-me uma cobardia intelectual esperar por resultados negativos para vir apontar o dedo ao trabalho de um treinador que tem sido muito claro sobre o que pretende, desde a primeira hora. Se se discorda do trabalho, a critica não pode depender dos resultados.
Paços - A propósito do quadro que acompanha o texto, é ainda cedo para que estes dados sejam conclusivos. Ainda assim, e escapando a destaques mais óbvios e cujos dados falam por si, gostaria de chamar a atenção para a época do Paços, que teve um calendário até agora muito difícil e ainda alguma má fortuna relativamente ao aproveitamento das ocasiões que criou. Fica a nota, para confirmar ou não no futuro próximo, mas se a equipa mantiver o rendimento que conseguiu até aqui, dificilmente deixará de repetir uma excelente classificação, no regresso de Paulo Fonseca.
Novo seleccionador! - Fernando Santos foi o escolhido. Era, para mim, a solução mais previsível desde a primeira hora, não pela inexistência de alternativas de qualidade, que havia, mas porque era o nome mais consensual, e esse parece-me um critério fundamental para a Federação. Penso que tem boas condições para ser uma boa solução, tendo em Portugal um desafio na minha leitura semelhante ao que teve na Grécia. Isto é, terá um leque curto de seleccionáveis, e também a dependência previsível de uma geração que rapidamente entrará na casa dos 30. A exigência e o potencial é que serão maiores. Apenas espero que não o forcem a uma renovação que não é ao seleccionador que cabe fazer, e que com isso acabe por retirar potencial à equipa. Do ponto de vista táctico, a tendência deverá ser para manter o 4-3-3, mas com uma organização defensiva diferente, nomeadamente com maior adiantamento dos médios interiores, em contraponto com os extremos (aqui uma reticência, porque Ronaldo dificilmente poderá defender em zonas tão baixas). Não é de excluir, porém, a hipótese do 4-4-2 losango, que Fernando Santos utilizou tanto no Sporting como no Benfica. Pessoalmente, apenas lhe posso desejar a melhor das sortes.