17.9.15

Notas 15/16 (#4): Às portas do primeiro clássico

ver comentários...
- Se tivesse de projectar o clássico há umas semanas atrás, diria claramente que o Porto partiria com um favoritismo como há muito não justificava, num embate frente ao rival Benfica. As exibições portistas - e o jogo frente ao Estoril, em particular -, porém, forçaram-me a rever o problema de uma forma mais cautelosa. A verdade, porém, é que o Porto deu sinais rápidos de ter corrigido alguns dos aspectos mais preocupantes, sobretudo pela entrada de algumas individualidades que trouxeram outra qualidade à equipa. À esquerda, Layun será uma solução capaz de oferecer muito mais potencial ofensivo do que qualquer das até aqui testadas. Ao meio, e apesar do Porto me parecer ainda longe da qualidade que tinha no ano anterior, com Imbula e Danilo a impressionar pouco, André André confirmou os sinais que havia deixado e, corroborando o que havia aqui escrito, revela-se nesta altura como a única boa notícia para Lopetegui neste sector. Depois, Corona também deixou sinais muito prometedores, adivinhando-se poder ser uma mais valia imediata. Foram, portanto e de uma só vez, 3 boas notícias para o Porto, que acredito não estar ainda tão forte como o vimos no seu ritmo de cruzeiro da temporada anterior, mas que é ainda assim suficiente para ser amplamente favorito na recepção ao Benfica. A meu ver, claro...

- Se não vejo o Porto, ainda, tão forte como no ano passado, e ainda assim me parece claramente o favorito para vencer o clássico, isso só pode suceder por continuar a reconhecer uma quebra de qualidade no Benfica, face a 14/15. A goleada ao Belenenses ajudou a melhorar o estado de espírito em torno da equipa, mas confesso que não vi grandes novidades na exibição realizada nesse jogo, em relação às anteriores. O Benfica foi dominador, mas também já o fora em qualquer dos jogos que havia realizado no campeonato até à altura, estando a diferença sobretudo em dois aspectos. O primeiro é a eficácia, com o Benfica a aproveitar, desta vez, praticamente todas as situações claras de golo que teve, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, frente ao Arouca. Este é, talvez paradoxalmente, um factor decisivo para marcar a diferença na percepção externa (como sabemos, os adeptos e comunicação social são muito mais sensíveis aos resultados do que às exibições), mas também aquele que menos significância tem para o futuro, já que a eficácia jogo-a-jogo é, essencialmente e ao contrário de algumas crenças, aleatória. O segundo aspecto, e voltando ao jogo frente ao Belenenses, é o controlo defensivo do adversário, que tem sido melhor conseguido nos últimos jogos - já o havia sido frente ao Moreirense, apesar dos dois golos consentidos. Não quero com isto dizer que o Benfica esteja próximo dos níveis ideais na sua performance defensiva, que não me parece ser o caso, quero apenas dizer que os sinais de consistência têm sido melhores e que isso em princípio ajudará a reduzir a probabilidade de perdas pontuais regulares. Seja como for, o Benfica tem ainda vários pontos onde precisa de melhorar para se afirmar de forma mais séria como um candidato ao tricampeonato. A assimetria de valores na equipa é hoje assinalável, parecendo demasiado dependente de Gaitan e Jonas e não tendo alternativas ao mesmo nível em soluções como Talisca, Gonçalo Guedes e Mitroglou. Já aqui escrevi que Jesus me parece ter sido uma perda relevante para o Benfica, mas sou também da opinião que os problemas do Benfica de hoje, comparativamente com o do passado, ultrapassam e muito a questão do treinador.

- À margem do clássico ficará não desinteressadamente o Sporting, que viu arrastar para a época desportiva um problema que se pensava poder ficar resolvido no defeso: Carrillo. Há muito que escrevo que a eventual saída do peruano seria uma perda desportiva de relevo, mas hoje essa é uma ameaça bem mais clara e que pode ainda vir a fazer-se sentir nesta temporada. À parte desta novela, o Sporting conseguiu um importante triunfo em Vila do Conde. Foi um jogo interessante, em grande medida pelas dificuldades que o Rio Ave conseguiu criar ao Sporting em boa parte, sendo especialmente surpreendente o número de vezes que a equipa de Pedro Martins conseguiu abordar em boas condições a área de Rui Patrício. Não é comum, nos dias que correm, que um "grande" passe por tantos problemas no campeonato português, e isso deverá ser motivo de reflexão para Jesus. Em destaque, na minha perspectiva, a forma como o Sporting não conseguiu controlar a celeridade com que o Rio Ave colocava unidades na frente, assim como alguma falta de critério na gestão da posse, comprometendo a reacção à perda. Em boa medida, o Sporting foi feliz, sem dúvida, mas conseguiu fazer-se valer a meu ver em dois períodos onde foi claramente superior ao Rio Ave: no arranque do jogo, e até conseguir a vantagem; e depois do 2-1, conseguindo finalmente controlar o jogo na recta final e numa altura em que os três pontos pareciam poder ser claramente colocados em causa. Ainda sobre o Sporting, há que assinalar que apesar da candidatura ao título ser hoje uma quase obrigação para a equipa, em claro contraste com a época passada, não me parece que o conjunto de jogadores que vem jogando seja mais forte comparativamente com o do ano anterior. Em particular, o Sporting perdeu a sua principal figura - Nani - não se tendo reforçado com nenhum jogador do mesmo calibre, e não contou ainda com William Carvalho no onze, até ao momento. Esta é uma ideia que me parece interessante, mais uma vez pela forma como as percepções mediáticas se vão moldando, nem sempre, na minha perspectiva, com o maior fundamento lógico.

- No plano internacional, nota inevitável para o Chelsea de Mourinho, que permanece ancorado à sua crise de arranque de temporada. Não vou discutir os aspectos mais técnicos do jogo frente ao Everton (fica aqui uma sugestão, do blogue segunda bola), mas confesso-me mais intrigado pelas declarações de Mourinho no final do que pelas dificuldades da própria equipa. Isto porque o Chelsea não foi nunca superior ao Everton, tendo mantido sempre dificuldades de controlo defensivo que não foram inferiores aos problemas que foi colocando, ofensivamente, ao seu adversário. Ora, Mourinho veio no final falar sobretudo de infortúnio, descrevendo um jogo em que o Chelsea teria sido essencialmente vítima de uma má fase em termos de fortuna e eficácia, o que claramente não corresponde ao caso. Não é só Mourinho, mas frequentemente pergunto-me se os treinadores se equivocam genuinamente na análise aos jogos das suas equipas, ou se são apenas e de forma deliberada, intelectualmente desonestos...

AddThis