21.5.15

O título (Benfica e Porto) e o Sporting

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- Começo pela questão do título, que esta semana viu o Benfica confirmar a renovação do seu título de campeão. Este era um cenário que há já algum tempo vinha dando como significativamente provável, nas análises que fui partilhando, não por haver uma diferença significativa de qualidade entre as duas equipas, mas essencialmente pela vantagem que o Benfica cedo conseguiu. É curioso, já agora, como as pessoas se revelam pouco sensíveis na hora de estimar a probabilidade dos eventos. Intuitivamente conseguimos obviamente distinguir entre a possibilidade e a impossibilidade, mas depois não fazemos grande distinção no que respeita à probabilidade dos mesmos virem a ocorrer, e isto explica o porquê de tanta gente repetir coisas como "está tudo em aberto", perante cenários tantas vezes desequilibrados no que às probabilidades diz respeito. Talvez seja uma consequência evolutiva, ou não fosse a vida feita precisamente de um conjunto de acontecimentos altamente improváveis. Enfim, o ponto aqui é que há muito tempo que as hipóteses reais do Porto se sagrar campeão eram, ainda que não impossíveis, relativamente remotas.

- Um dos clichés de quem faz a análise aos campeões é considerá-los justos, assumindo que uma prova com a extensão de um campeonato acaba inevitavelmente por distinguir os melhores e mais regulares. Ora, isto pode até ser verdade para a generalidade dos casos, mas não o é obrigatoriamente, nem me parece ser para este caso concreto. Desde logo, porque Benfica e Porto fizeram exactamente os mesmos pontos nos jogos contra as restantes equipas, o que faz que nem a análise pontual sustente essa tese. Depois, porque de facto não me parece que existissem diferenças significativas no rendimento de campeão e vice campeão, cuja diferença na tabela se deve mais a uma questão de pormenor do que outra coisa. Por exemplo, o mesmo já havia acontecido nos dois últimos títulos portistas, onde fora o Benfica a ficar marginalmente por baixo, em duas provas extremamente equilibradas, sendo que também nesses casos foi a equipa que esteve mais tempo envolvida nas provas europeias que acabou por ver o seu rival fazer a festa do campeonato. E este parece-me um factor potencialmente importante entre duas equipas que se equivaleram tanto. Outro factor que me parece poder ter sido potencialmente diferenciador é o das bolas paradas, onde o Benfica se apresentou significativamente melhor do que o Porto, sendo que a equipa de Lopetegui me pareceu globalmente mais bem potenciada do ponto de vista defensivo do que ofensivo, de acordo com as análises e opiniões que fui deixando ao longo da época. E aqui reforço que, apesar destes factores potencialmente diferenciadores, as duas equipas se equivaleram no essencial, sendo natural que no plano mediático e emocional se estabeleça um fosso entre vencedores e vencidos, mas não sendo racional nem aconselhável que essa seja a análise de quem gere o futebol dos dois clubes. Nem o Porto precisa de mudar tudo porque não foi campeão, nem o Benfica deve acreditar que parte para 15/16 em vantagem sobre o seu rival. Não perceber isso pode ser o primeiro passo em falso na nova temporada.

- Aproveito também para escrever sobre o Sporting, que não faço há bastante tempo. Assumindo a subjectividade da análise, creio que o Sporting terá feito um campeonato positivo. Se compararmos com os registos históricos das últimas décadas, essa tem de ser claramente a conclusão, mesmo que isso não tenha chegado sequer para lutar pelo título. O Sporting, a este propósito, está numa situação atípica, porque não é uma equipa que tenha uma referência comparativa clara no panorama do futebol português actual. A sua ambição incontornável é a luta pelo título, mas não parece justo que se exija estar permanentemente no patamar de rivais que se preparam com condições orçamentais muito mais favoráveis. Por outro lado, o Braga também não é uma referência suficientemente ambiciosa para a dimensão do Sporting. O habitual é que as equipas estabeleçam para si próprias metas comparativas (ser campeão, chegar à europa ou não descer), dependendo estas sempre dos desempenhos alheios, mas não tem de ser assim. Pode-se perfeitamente definir metas próprias, como um número de pontos a alcançar, ou mesmo de golos marcados e sofridos, e no caso do Sporting creio que é isso que fará racionalmente mais sentido. Assim, e voltando ao inicio, não creio que se possa fazer um balanço negativo do campeonato do Sporting, se atentarmos apenas aos resultados da própria equipa. É claro que poderia ter sido melhor, e aqui parto para aquele que me parece ser um panorama menos favorável para o Sporting. É que este ano o Sporting contava com unidades que lhe ofereceram um excelente contributo, em especial no plano ofensivo, e que provavelmente não estarão presentes no futuro imediato. No caso, se à previsível perda de Nani se juntar também a de Carrillo, dificilmente o Sporting conseguirá evitar uma perda importante de potencial para a próxima época, sendo preciso para isso um defeso extraordinário no que diz respeito a reforços. Neste plano, compreender-se-á uma eventual frustração dos dirigentes do Sporting relativamente à presente época, já que estavam reunidas condições que não serão fáceis de repetir num futuro próximo, mas nem por isso a equipa foi capaz de se bater pelo título. Aqui, é impossível não destacar o desempenho defensivo, que me parece ter ficado bem aquém do que era possível. No Sporting discute-se muito, até pelas novelas que vão marcando a agenda mediática há praticamente meio ano, o tema do treinador, e sendo esse um ponto indiscutivelmente importante, parece-me também ser amplamente sobrevalorizado no plano mediático. Para ser concreto, se o Sporting perder Nani e Carrillo no defeso, o mais provável é que 15/16 venha a ser uma época bem mais complicada em Alvalade do que foi 14/15, sente-se no banco Marco Silva ou qualquer outro treinador deste mundo.

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