- Respeitando a ordem cronológica, começo pelo jogo de Turim. A situação desta eliminatória lembra-me um pouco o ponto em que se encontrava a eliminatória entre Porto e Bayern, após o jogo do Dragão. Ou seja, a vitória do Juventus não terá chegado para ficar mais próximo da final do que o seu rival, mas terá pelo menos sido suficiente para ter anulado o favoritismo que inicialmente o Real justificava. As hipóteses estarão, portanto, bastante equilibradas nesta altura. A Juventus deverá, para já, estar satisfeita pela forma como conseguiu expor algumas fragilidades de uma equipa que lhe é claramente superior. O Real, por seu lado, guardará para si também alguma responsabilidade no desaire, sobressaindo claramente dois factores chave: a ausência de algumas unidades importantes, como Modric e Benzema, e a dificuldade de Ancelotti em manter um onze com as características mais indicadas para o seu modelo. Não haverá grandes dúvidas de que a Juventus terá de sofrer bastante para sobreviver à segunda mão, onde provavelmente precisará não só de uma noite inspirada, mas também de um contributo da aleatoriedade no que respeita à eficácia das ocasiões que forem criadas. Um factor impossível de controlar, mas que nos 90 minutos que faltam jogar, pode bem vir a revelar-se ser decisivo.
- Passando ao prato forte, não apenas destas meias-finais, mas de toda edição da Champions, e talvez mesmo o embate mais interessante dos últimos anos, o Barça-Bayern, começaria por tentar abordar o jogo da perspectiva o Bayern. Guardiola, sem surpresa, teria como primeira prioridade ter bola. Talvez por uma questão de filosofia, diria quase dogmática, mas a verdade é que esse lhe objectivo lhe permitiria retirar tempo de ataque ao Barça e assim ser também uma arma de controlo defensivo, para além do potencial ofensivo que mais obviamente a posse oferece. O Bayern cumpriu este primeiro propósito relativamente bem, inclusivamente sem grandes custos ao nível de perdas de risco, como acontecera por exemplo no Dragão. Mas só a posse, por si só, dificilmente seria suficiente. Nesse sentido, era preciso, também, garantir um bom controlo defensivo, nomeadamente no que respeita ao controlo da profundidade, onde a equipa sente dificuldades com algum hábito, e depois ser capaz de ser consequente no último terço ofensivo. E foi nestes últimos pontos que o Bayern, realmente, não me pareceu estar à altura do desafio que que tinha pela frente. Provavelmente mais decisiva a questão ofensiva, que resulta da incontornável diferença de valores individuais, particularmente agravada pelas baixas de Ribery e Robben. Assim, o Bayern conseguiu o raro feito de dividir a posse de bola no Camp Nou, mas não se aproximou mais do golo do que a generalidade das equipas que visitam aquele estádio. A esse nivel, portanto, vulgar. Depois, a questão defensiva, que apenas teve custos na fase final do jogo, mas que já na primeira parte havia proporcionado ao Barça ocasiões mais do que suficientes para ter chegado à vantagem antes do intervalo, mesmo com uma presença em posse bem mais limitada do que é habitual. Neste sentido, penso até que o jogo terá corrido relativamente bem ao Bayern, ficando-me a dúvida de que forma a equipa poderia ter reagido se o Barça tivesse chegado ao golo, como me parece ter feito por merecer na primeira parte. Ao olhar para o que aconteceu na recta final do jogo, assim como outras ocasiões durante a época, sobra a ideia de que o risco poderia ter sido bastante elevado e um regalo para Messi e companhia, assim como foi para o Real no ano anterior. Referido isto, há também que salientar a ironia do jogo, já que se a primeira parte do Barça justificava a vantagem, a segunda estava a ser muito pouco conseguida até ao golo, com várias precipitações ao nível da decisão com bola, e com o Bayern a parecer ser capaz de levar pelo menos o nulo para uma segunda mão que teria tudo para lhe ser mais favorável. Aí, porém, sobressaiu o tal detalhe que faz verdadeiramente a diferença entre este Bayern e este Barça, a qualidade individual, e em especial o incontornável génio de Messi. E aí, por muito que no plano mediático sugira que são os treinadores o epicentro de tudo no futebol, a verdade é que me continua a parecer que o seu poder é muito escasso face à diferença que certos jogadores podem fazer.