24.4.15

Notas (antevisão do Benfica-Porto e Champions)

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- Mesmo com uma semana tão intensa como a que tivemos ao nível das provas europeias, talvez faça sentido começar por escrever sobre o clássico, que irá com grande probabilidade definir o campeão português em 14/15. É curioso verificar que a diferença pontual com que as equipas partem para este jogo é de 3 pontos, o que significa que o que distingue Porto e Benfica na tabela é, nesta altura, apenas o jogo entre ambos no Dragão. Ou seja, e perante a possibilidade real de que, quer Benfica quer Porto, se venham a impor nos restantes jogos que o calendário lhes reserva, temos aqui em perspectiva um campeonato que apesar de ter 34 jornadas se encontra perante uma decisão em tudo idêntica a uma eliminatória disputada a duas mãos. O Benfica venceu a primeira por 0-2, e o Porto precisa agora de reverter esse resultado para que as suas perspectivas sejam optimistas, caso contrário será sempre o Benfica a ter tudo para revalidar o título. Este é um cenário que não é tão improvável como à partida possa parecer, tendo em conta o desnível competitivo que a Liga Portuguesa vem revelando. É que, e creio já ter escrito sobre isto, quanto maior for a diferença dos candidatos ao título para as restantes equipas, maior a importância relativa que se pode esperar dos duelos directos para o apuramento do campeão, e logo mais a decisão se pode aproximar de uma competição a eliminar. Outra consequência importante deste cenário é que a regularidade da prova não tem grande capacidade para testar e diferenciar a qualidade das equipas, podendo com mais facilidade uma equipa que não seja necessariamente a melhor, sagrar-se campeã (o que pode ser uma oportunidade para algumas equipas, note-se). Enfim, é esta a realidade da liga portuguesa actual, que conceptualmente não me parece ser a melhor para o seu desenvolvimento, mas que, tenho que reconhecer, é aquela que mais vai ao encontro das pretensões da massa adepta, praticamente dividida entre 3 clubes, e que deseja ver os seus emblemas a ganhar o mais possível, tendo depois alguns jogos decisivos como prato forte da temporada.

- Indo mais concretamente ao jogo, parece-me inegável que o Benfica tem tudo a seu favor. O factor casa, a possibilidade de ter tido uma semana para preparar o encontro, ao contrário do seu adversário, e o conforto de jogar com vários resultados que lhe são favoráveis, relembrando que o Porto vai precisar de vencer por pelo menos 2 golos para anular a vantagem com que o Benfica parte para uma fase já bastante terminal do campeonato. Neste sentido, este será um desafio enorme para o Porto, que joga na Luz a sua derradeira cartada da temporada. Do ponto de vista táctico, será interessante perceber até que ponto as equipas irão procurar impor-se pela posse e pelo domínio territorial, mas é bastante provável que ambas o tentem fazer. O Benfica, porque joga em casa e não quererá abdicar da sua identidade habitual. O Porto, porque para além de ter naturalmente essa vocação, tem também a obrigatoriedade de vencer, não fazendo sentido outra coisa que não seja procurar impor-se territorialmente. Uma coisa é certa, haverá apenas uma bola, pelo que mesmo que ambas as equipas o tentem fazer, não será possível às duas impor-se da forma que provavelmente mais pretenderão...

- Voltando, então, atrás e às eliminatórias da Champions, começo pela decepção portista, em Munique. A principal critica, após o jogo, residiu na forma menos afoita como o Porto abordou o seu pressing, nomeadamente comparativamente com a primeira mão. Pessoalmente, concordo com essa critica, mesmo se não me parece haver qualquer garantia de que com outra abordagem a goleada pudesse ter sido evitada. Pelo contrário, os espaços até podiam ser maiores se essa pressão fosse superada pelo Bayern. O que penso, porém, é que seria sempre muito difícil ao Porto sobreviver a 90 minutos de sufoco, relegando o seu bloco para zonas mais baixas durante tanto tempo, pelo que provavelmente compensaria assumir mais alguns riscos, tendo como objectivo provocar o erro do adversário na sua circulação mais baixa. Quanto ao Bayern, fez um jogo fantástico e que em qualquer caso seria muito complicado de contrariar por parte do Porto. Como escrevera, o resultado da primeira mão não deveria ser sobrevalorizado, porque as diferenças de valor entre as equipas eram amplas, e porque o próprio Bayern vinha dando bons sinais de vitalidade na competição interna, mesmo com as ausências de Robben e Ribery. De todo o modo, e sem pôr aqui em causa o enorme mérito que teve o Bayern, refiro o mesmo que referi para o Porto na primeira mão. Ou seja, o resultado só se precipitou para tamanho desnível porque, e tal como acontecera com os portistas na primeira mão, quase tudo saiu bem aos bávaros em termos de finalização.

- O sorteio das meias-finais ditou o confronto que pessoalmente mais desejava ver, entre Bayern e Barça. É um duelo que, a meu ver, tem tudo para provocar dilemas às duas equipas, sendo complicado de projectar um vencedor, ainda que me pareça a maior qualidade individual do Barça lhe oferece uma vantagem que poderá ser importante. A primeira questão será a da posse de bola. Apesar de ser o Barça quem tem jogadores com mais capacidade para dominar o jogo pela posse, creio que será o Bayern quem tem mais probabilidade de se afirmar territorialmente, pela importância que Guardiola atribui a esse aspecto do jogo. Mas Guardiola saberá também que ao assumir a sua identidade estará a correr mais riscos do que nunca, pressionando adversários que são fortíssimos tecnicamente, e dando espaço a jogadores que são quase imparáveis quando o têm. Resta saber que especificidades introduzirá Guardiola para o embate contra a sua ex-equipa... Quanto ao Barça, como escrevi parece-me que em princípio a mais-valia individual dos seus jogadores lhe confere uma vantagem potencialmente importante, mas a equipa de Luis Enrique tem dois grandes testes nesta eliminatória. O primeiro é a capacidade de compromisso dos seus jogadores, porque frente a uma equipa que trabalha tão bem (e com tanta gente!) o processo ofensivo, será preciso defender bem mais do que é hábito. O segundo tem a ver com a valorização da posse de bola, porque o Bayern fará tudo para a recuperar tão rápido quanto possível, e se o Barça conseguir contornar esse obstáculo anulará grande parte das pretensões do seu adversário, sendo que se não o fizer o Bayern levará o jogo para onde quer que ele vá.

- Sobre a outra meia-final, dizer que o favoritismo do Real é óbvio. E aqui, quero ser claro sobre um ponto. O futebol de Real, Barça e Bayern é tão superior e inatingível para a generalidade das equipas, não porque estas sejam más ou tenham regredido em relação ao passado. O que aconteceu foi que, de há cerca de 6 anos a esta parte, houve um salto qualitativo enorme destas três equipas, que se projectaram para patamares qualitativos praticamente sem paralelo em toda história do futebol. O Barça, a partir da entrada de Guardiola e com a explosão de Messi, o Real com a chegada de Ronaldo e a segunda "era galáctica", e o Bayern sobretudo após a entrada de Guardiola. Podemos ver isso claramente, se olharmos ao que fazem hoje Barça e Real internamente, em termos de pontos e número de golos, e compararmos com que acontecia anteriormente. Neste sentido, a Juventus como outras equipas não são outsiders nesta corrida por serem equipas medíocres ou desmerecedoras da História do seu emblema, apenas não conseguiram acompanhar a evolução que se verificou nos outros 3 casos e por isso as suas dificuldades de afirmação no plano europeu são hoje bem maiores do que no passado.

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