2.3.15
Porto-Sporting, notas do clássico
- Começando pelo Porto, e arriscando ir um pouco em contraciclo relativamente àquilo que me parece ser a percepção geral, devo dizer que não fiquei especialmente impressionado com a exibição da equipa de Lopetegui, antes pelo contrário houve alguns aspectos que me pareceram preocupantes. Para contextualizar melhor, devo relembrar que, conforme venho escrevendo há algum tempo, as minhas expectativas sobre a equipa eram já muito elevadas antes deste jogo, e dizer também que concordo que o domínio que esta conseguiu foi de facto avassalador, a partir da meia hora de jogo. Ora, o meu problema é precisamente com esses primeiros 30 minutos de jogo. É que nesse período o Porto fez uma entrada bastante fraca no jogo, voltando a comprometer muito na primeira fase de construção, acumulando erros que lhe poderiam ter custado muito caro e dado um rumo completamente diferente à partida. Por exemplo, penso que o que o Porto fez nesse período foi pior do que aquilo que fez no jogo da Taça, só que ao contrário desse jogo desta vez o Porto não foi penalizado por isso. O ponto aqui tem a ver com o desempenho num contexto de jogo em que a equipa se tem de assumir em posse, pretendendo incluir algum risco nesse processo, sendo que os sinais dados foram muito negativos. O domínio que o Porto exerceu aconteceu apenas quando o jogo lhe ofereceu um contexto diferente, podendo jogar a partir da recuperação de bola e da reacção à perda. Não é um problema novo no Porto 2014/15, mas confesso que esperava que a equipa tivesse nesta altura outra capacidade de resposta. De resto, Lopetegui continua a ter razões para estar satisfeito com a resposta da equipa em vários planos, não me parecendo no entanto que esta vitória se deva à vertente estratégica do jogo, antes sim com a qualidade e eficácia de alguns dos seus princípios base.
- Sobre o Sporting, obviamente a análise tem de ser contrastante com a do seu opositor. Ou seja, a equipa apresentou-se relativamente bem nos primeiros minutos, denotando no entanto uma enorme incapacidade para explorar os erros que potenciou, perdendo-se completamente após a desvantagem, acumulando erros, tanto colectivos como individuais. E, a este respeito, vou optar por me centrar em algumas exibições individuais, que me parecem ter sido decisivas para as aspirações da equipa (os problemas colectivos vêm de trás, e já escrevi bastante sobre eles). Começando por Jonathan, que terá ficado com a cruz das análises pós-jogo, mas que não me parece ter tido responsabilidade clara em nenhum dos golos (ainda que tenha cometido outros erros). Ainda no que respeita à defesa, nota para as enormes dificuldades de Tobias, que cometeu inúmeros erros a todos os níveis. Tanto a sair com bola, como no controlo do seu espaço de acção (antecipação e profundidade). Como já escrevi, parece-me que faz muito mais sentido ao Sporting apostar num jogador como Tobias do que pagar milhões por um currículo, mas também que me parece que talvez fosse melhor para o jogador ter outro tipo de rodagem antes de ser lançado a este nível (ainda para mais, com a saída de Maurício passou a ser praticamente a única opção viável numa fase decisiva da temporada). Também Cedric foi diversas vezes arrastado por movimentos sem bola, perdendo a sua referência posicional com a restante linha defensiva, um problema que o próprio Paulo Oliveira denotou pontualmente, embora este me pareça ter feito um jogo muito mais positivo do que os seus companheiros de sector. No meio campo, Adrien voltou a ter um péssimo desempenho técnico com bola num jogo grande, algo que é recorrente na sua carreira e que se torna algo complicado de explicar, sendo certo que tal limitação torna muito mais difícil a afirmação da equipa no jogo. Na frente, nota para Montero e para o entendimento limitado que tem do jogo, penalizando muito a equipa sempre que tem pela frente um contexto em que é fundamental ser agressivo no ataque à profundidade (e é neste contexto que mais falta faz Slimani, e não perante equipas com um bloco mais baixo). O colombiano é obviamente um jogador muito dotado tecnicamente, o que o torna muito complicado de controlar em certas situações, mas por outro lado denota uma espécie de autismo perante certos contextos de jogo, negligenciando constantemente a oportunidade e importância que podem ter os seus movimentos sem bola. Na minha perspectiva, teve tudo para assumir um papel decisivo na fase inicial da partida, onde a equipa potenciou várias situações onde tinha tudo para atacar rapidamente a profundidade, mas a sua referida limitação na leitura de jogo nesse tipo de situações, transformaram o seu contributo numa completa nulidade.