12.3.15

Notas da Champions (Porto, Chelsea e Real Madrid)

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Porto - A passagem aos quartos-de-final, carimbada com uma expressiva goleada, e os resultados frente a Sporting e Braga, vieram mudar por completo o estado de ânimo em torno da equipa. Escrevo "resultados" e não tanto exibições, porque mais uma vez me parece que são estes que verdadeiramente influenciam a percepção mediática (e não só...). É que vejo na equipa de hoje essencialmente as mesmas virtudes do que naquela que foi derrotada em casa pelo Benfica ou na Madeira pelo Marítimo, sendo que já nessa altura e apesar dos resultados, o Porto denotava uma invulgar capacidade para dominar territorialmente os seus adversários, o que motivou o meu confessado optimismo para a caminhada europeia da equipa. Ora, se essas minhas perspectivas se têm confirmado no geral, tenho de manter também as reservas que apresentei na sequência do jogo contra o Sporting, a propósito de alguns aspectos em que Lopetegui não conseguiu fazer evoluir o seu conjunto. Os movimentos no último terço são um caso - que já penalizou muito as aspirações da equipa na liga interna -, mas a nota mais problemática no que respeita à caminhada europeia parece-me ser a dificuldade que a equipa denota no seu inicio de construção, algo muito visível nos primeiros 30 minutos da recepção ao Sporting, mas também por exemplo na primeira parte do jogo de Braga, com a bola a entrar sucessivamente no lateral sem que este tivesse qualquer solução para dar continuidade à jogada, oferecendo todas as condições para o sucesso do pressing adversário. Os erros cometidos a este propósito podem não ter tido grandes custos, mas é bastante provável que os tenham se forem repetidos nos quartos-de-final da Champions, porque aí, e seja qual for o opositor que calhe em sorte ao Porto, a capacidade para explorar rapidamente o espaço e a profundidade será certamente muito maior. A este propósito e de forma breve, parece-me que não ajuda nada a disposição posicional da equipa, nomeadamente com 4 elementos (laterais e extremos) permanentemente colados às linhas, o que facilita muito a neutralização dos pontos de apoio para a saída da bola a partir dos elementos mais recuados. Em suma, mantenho a minha ideia de que este Porto será capaz de levar para os pormenores, um eventual confronto contra a generalidade das equipas ainda em prova (não todas, evidentemente), mas não acompanho o recente crescimento da onda de entusiasmo em torno das aspirações europeias da equipa, e por 3 motivos fundamentais: 1) porque a minha expectativa já era elevada desde há uns tempos a esta parte; 2) porque, e apesar dos bons resultados, a equipa não deu sinais de que tenha corrigido alguns aspectos em que me parecia importante ser capaz de evoluir; 3) porque a diferença das principais equipas para as outras é, por estes dias e na minha opinião, avassaladora.

Chelsea - Terá sido a única surpresa entre as eliminatórias até agora terminadas, especialmente tendo em conta o curso que levou esta segunda mão. Na verdade, o que o jogo mostrou - e independentemente do desfecho que teve - acaba por ir ao encontro de duas ideias que havia deixado a propósito destas equipas. Sobre o Chelsea, a sua incapacidade para se afirmar claramente e com regularidade nos jogos que disputa, deixando a sua decisão muitas vezes para os pormenores. Este era um aspecto que, a meu ver e claramente, distinguia Chelsea de outros candidatos mais fortes nesta prova, precisamente porque estaria muito mais dependente dos pormenores que não são fáceis de controlar. Sobre o PSG, a ideia de que se trata de uma equipa com capacidade rara em termos técnicos, o que lhe permitiu nomeadamente ser capaz de dividir o jogo, em termos de domínio e presença territorial, mesmo num contexto tão complicado como aquele que encontrou. Mais uma vez, parece-me absurdo que esta equipa não tenha outra capacidade de afirmação no plano interno, e que não seja também um candidato mais forte a uma eventual presença na final de Berlin, mas isso é algo sobre o qual os seus milionários responsáveis deverão ter de reflectir. Voltando ao Chelsea, de notar que há agora a forte probabilidade de não termos qualquer equipa inglesa nos quartos-de-final da Champions, o que não poderá deixar de se considerar estranho tendo em conta a dimensão que tem a Premier League. O problema, na minha leitura, tem acima de tudo a ver com as principais equipas e não tanto com a liga como um todo. A este propósito, é interessante como o futebol inglês, e apesar de toda a sua capacidade de investimento, não tem conseguido segurar as suas principais figuras, com Ronaldo, Bale e mais recentemente Suarez a deixarem a competição. Ora, como é óbvio, quem quer ter as melhores equipas, não pode deixar sair os melhores jogadores. Talvez falte à Premier League, alguém que consiga elevar a fasquia, aumentando assim o grau de exigência interno, ago que até certo ponto, Mourinho e o Chelsea conseguiram fazer nesta temporada, mas como está bom de se ver esse não é ainda um patamar suficiente para rivalizar de igual para igual com os melhores dos melhores.

Real Madrid - Uma quase surpresa, que a acontecer teria sido muito mais do que isso, tendo em conta o desnível entre as equipas e a vantagem com que o Real entrou para a segunda mão. A propósito do Real Madrid, já partilhei aqui o meu parco entusiasmo em relação ao seu desempenho colectivo. No entanto, parece-me também que será um enorme equívoco que se sobrevalorize o actual registo de resultados recentes, nomeadamente desconsiderando as probabilidades de revalidação do titulo europeu do Real. O seu potencial individual é tremendo e faz com que o Real continue a ser, na minha leitura, um dos 3 principais candidatos ao troféu, sendo que me parece inclusivamente uma equipa mais talhada para este tipo de prova, porque se o compromisso colectivo dos seus jogadores não é o ideal, ele certamente cresce assinalavelmente nos momentos de maior atenção mediática, como será o caso das eliminatórias finais desta competição. Ainda a respeito das perspectivas a ter sobre quem poderá vencer a prova, parece-me que a eliminação do Chelsea é um dado que joga a favor daqueles que me parecem ser os 3 principais candidatos ao título: Barcelona, Real Madrid e Bayern. Não porque o Chelsea seja muito melhor do que o PSG, mas porque me parece uma equipa com maior capacidade de sofrimento e capacidade para se adaptar a um cenário em que defronte um adversário tecnicamente mais forte. Neste mesmo sentido, poderá ser uma excelente notícia para estas equipas se o Atlético ficar também de fora já nesta fase, porque é outra equipa com grande capacidade de resistência em contextos de maior dificuldade - aliás, e ainda que não me pareça tão forte como no ano passado, continuaria a distingui-la como a formação mais forte nesse registo. Ou seja, e se os sorteios não o impedirem, pode tornar-se cada vez mais provável que de entre Real, Barça e Bayern, não saia apenas o vencedor da edição 2015, mas os dois finalistas.

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