Melhor jogador - Estes prémios têm a particularidade de combinar uma importância mediática crescente com uma imutável subjectividade para os critérios de escolha. A importância mediática é crescente, não só pelas características da sociedade actual, mas também porque com a centralização deste prémio na FIFA, e abrangendo todos os jogadores do planeta, esta passa a ser a referência máxima para encontrarmos os melhores da História do jogo. Basicamente, com o passar do tempo será sobretudo para esta lista que as gerações seguintes irão olhar quando quiserem saber quem foram os melhores do tempo dos seus antepassados. E aqui reside uma primeira distinção entre aquilo que é hoje o "FIFA Ballon d'Or", e o que foi noutros tempos o "Ballon d'Or" do France Football, apenas circunscrito a jogadores europeus. Por exemplo, é impossível comparar Pelé com Maradona à luz destes prémios, mas ninguém duvidará que o balanço histórico entre Messi e Ronaldo se fará em grande medida pelo número de bolas douradas que ambos conseguirem conquistar até ao final das respectivas carreiras. A outra distinção tem a ver com o facto de hoje, e ao contrário de tempos que não são assim tão remotos (ou se calhar já são, e eu é que estou a ficar velho), hoje a apreciação do desempenho dos principais jogadores mundiais pode ser feita de forma global e ao longo de toda a época. E isto, parece-me claro, faz com que eventos super mediáticos, como fases finais de campeonatos do mundo ou da europa, deixem de ter um peso tão avassalador na eleição, como acontecia no passado.
Quanto à escolha de 2014, ela parece ser bastante consensual, tendo em conta os resultados da votação. No entanto, e voltando a pegar nesta ideia, o facto de não existirem critérios claros para a eleição torna a escolha subjectiva, tornando possíveis e igualmente válidas as mais diferentes opiniões. Pessoalmente, penso que a escolha deve recair no jogador que mais potenciou (em termos absolutos e não relativos, como é evidente) as hipóteses de sucesso das respectivas equipas através do seu contributo individual, independentemente dos títulos que conquistou colectivamente. E, na minha opinião, só há dois jogadores que actualmente podem discutir esse estatuto, Ronaldo e Messi. A diferença entre ambos, hoje, não me parece tão grande quanto a votação sugere, assim como não me parece que o tivesse sido em edições passadas, quando Messi venceu de forma igualmente inquestionada. Na minha análise, tem muito que ver com o contexto colectivo em que cada um se insere, sendo que Messi teve durante muito tempo uma vantagem a esse nível (nomeadamente na era Guardiola), e hoje será Ronaldo a usufruir do lado favorável desse handicap. Em 2015, e salvo qualquer lesão indesejada, a luta deverá ser novamente entre os dois, com a eventual introdução de uma terceira figura, caso nem Real, nem Barça conquistem a Champions, ainda que eu discorde de que os títulos colectivos devam ter um grande peso numa eleição que supostamente é centrada na performance individual.
Melhor treinador - Também aqui está omisso um critério claro para a escolha, o que torna também válida qualquer opinião. Outra questão será perceber qual é o critério que norteia a eleição, e olhando para o histórico de distinções fica evidente que é condição necessária que o candidato tenha conquistado uma grande competição ao nível de Selecções, ou a Champions League, especialmente em anos em que não há europeus ou mundiais. Ora, se assim for, diria que este é um prémio essencialmente estéril e redundante, porque mais não faz do que replicar para a personalidade dos treinadores os desfechos colectivos que já conhecemos desde o Verão. E esta ideia não podia ter ficado mais clara para mim do que na edição deste ano.
A meu ver, este prémio deveria distinguir o treinador que, ao mais alto nível do futebol mundial, mais conseguiu potenciar os recursos individuais com vista a atingir o ambicionado sucesso colectivo. E, a este respeito, 2014 foi um ano histórico relativamente à performance do Atlético de Madrid de Simeone. Barcelona e Real Madrid são, mais do que nunca, pólos agregadores das principais figuras do futebol mundial. Não são apenas capazes de contratar a primeira linha de jogadores para cada posição, contratam a primeira, a segunda e a terceira. O Atlético, pelo contrário, não só não pode competir com os rivais no mercado, como ainda se vê praticamente forçado a vender a sua principal figura todos os anos. São dimensões radicalmente diferentes, e se vencer uma taça do rei neste contexto seria já de si um feito notável, superar Barça e Real numa prova de regularidade como é o campeonato, chegando paralelamente à final da Champions é algo que até 2014 parecia apenas ser possível no domínio da ficção. Se tudo isto não chega para um treinador vencer este prémio, só porque não ganhou a Champions ou o Mundial, então tenho realmente muita dificuldade em perceber o alcance desta distinção.
Relativamente a Low, creio que de facto tem feito um bom trabalho na selecção alemã, que foi indiscutivelmente a mais forte do último Mundial. Mas, o mérito de Low nesse feito parece-me ser mais ou menos o mesmo aquele que teve Del Bosque nas suas conquistas de 2010 e 2012. Aliás, parece-me que hoje Low justificará até menos esta distinção do que em anos anteriores, nomeadamente quando renovou uma Selecção com um conjunto de jovens jogadores ainda pouco reputados, compondo uma equipa de grande qualidade. Hoje, o contexto é-lhe incomparavelmente mais favorável.
Há um nome que penso que devia estar nesta lista, que é o de Guardiola. Não apenas pelos títulos e domínio que conseguiu internamente, mas sobretudo pelo facto de ser um treinador que, ao mais alto nível, tem uma abordagem diferente de todos os outros. Aqui, porém, parece-me que Guardiola é vitima da escolha confortável que fez ao eleger o Bayern como destino para esta fase da sua carreira. O Bayern reforça-se com as principais figuras dos rivais internos, pelo que dominar a Bundesliga mais não é do que uma obrigação para quem dirige a equipa, e por isso um objectivo muito curto para um treinador com a qualidade de Guardiola. Seria, permitam-me a analogia, como colocar o mítico Sergey Bubka a saltar fasquias de 5 metros. Um desperdício para todos nós, que queremos ver os melhores a disputar os melhores títulos até ao limite, e creio que também um desperdicio para o próprio Guardiola, que vê a afirmação das suas ideias, no alcance que elas pretendem ter, ser resumida à performance da equipa na Champions. Aliás, suspeito até que a falta de competitividade possa não permitir que certos comportamentos de maior risco possam ser testados num nível superior, pelo menos foi a ideia que ficou pela forma como a equipa foi surpreendida perante a transição do Real. Enfim, apesar de tudo não hesitaria em incluir Guardiola na lista de 3 finalistas para este prémio, em detrimento de Ancelotti.