16.1.15
5 jogadas (Benfica, Porto, Sporting, Barcelona e Roma)
Jogada 1 - Lance de contra ataque do Benfica, numa primeira parte muito bem conseguida pela equipa de Jesus, construindo um número impressionante de ocasiões de golo. O meu sublinhado vai para o desempenho individual dos três protagonistas do lance, em especial para Jonas, não apenas pelo movimento final da jogada, mas também pelo pormenor técnico com que dá inicio à transição. Restam cada vez menos dúvidas de que o brasileiro se veio constituir como uma das principais mais valias do campeonato, tendo sido uma das mais acertadas aquisições da temporada e um jogador que justifica as mais optimistas esperanças por parte dos adeptos encarnados.
Jogada 2 - Este não é o ciclo de jogos ideal para testar a evolução da equipa, mas não me deixa de parecer que o Porto de Lopetegui tem dado sinais positivos nos tempos mais recentes. Ao nível da organização defensiva, já confessei as minhas elevadas expectativas a partir do que a equipa vem mostrando, mas surgem também alguns sinais positivos relativamente à dinâmica ofensiva, que durante muito tempo estiveram ausentes. O lance do primeiro golo na recepção ao Belenenses, com uma movimentação muito bem conseguida pelos dois médios sobre o corredor central, e que não foi caso isolado no jogo. O favoritismo não está claramente do lado portista no que respeita à corrida pelo título, mas a julgar pelo rendimento recente, o Benfica terá mesmo de manter a bitola elevada se quiser valer os 6 pontos de vantagem que conseguiu.
Jogada 3 - Vitória importante do Sporting em Braga, que foi justificada sobretudo pelo que a equipa conseguiu produzir no primeiro quarto de hora da segunda parte. Este lance, parece-me, reflecte bem como a equipa de Marco Silva conseguiu criar tantos lances de golo eminente num curto espaço de tempo. Decisivo o meio campo e as bolas divididas nessa zona do terreno, como ponto de partida. Depois, a incidência sobre os corredores laterais na fase criativa, coisa que também o Braga procurou fazer (e com algum sucesso, especialmente através de Pardo). Finalmente, a importância de ter boa presença na zona de finalização para dar sequência aos cruzamentos, sendo que aqui a acção de João Mário merece-me especial destaque. Não é a primeira vez que refiro à importância de ter um jogador capaz de ser, simultaneamente, um elemento extra na linha média e uma presença recorrente na zona de finalização. João Mário tem-no conseguido fazer com sucesso, e mesmo se neste jogo perdeu algumas oportunidades flagrantes, a dar continuidade a este tipo de prestação, certamente que ainda virá a festejar muitos golos até final da temporada.
Jogada 4 - Não há nada de surpreendente na vitória do Barça, frente ao Atlético de Madrid. A diferença de forças é enorme, e não se pode esperar que o Atlético repita sucessivamente os milagres que vem protagonizando sob o comando de Simeone. Mérito para o Barça, sobretudo pela inspiração na primeira parte, mas isso não pode afectar o reconhecimento de nova época notável que o Atlético vem realizando, se tivermos em conta o desnível entre os seus recursos e os dos rivais. Enfim, haverá mais para falar sobre Barça e Atlético até final da época... Sobre o lance do segundo golo, o meu destaque vai para o posicionamento estrategicamente aberto dos dois alas do Barça, que retiveram os laterais do Atlético, aumentando o espaço nas costas da primeira linha de pressão. O ajustamento posicional do Atlético vai ser circunstancialmente imperfeito e permite que Bravo encontre uma linha de passe dentro do bloco contrário. O desequilíbrio propriamente dito, porém, surge na má abordagem de Juanfran, que perde o tempo de antecipação sobre Messi e permite que o Barça parta para a área numa situação de 4x3. Depois, é igualmente interessante o movimento cruzado de Suarez e Neymar, com o brasileiro a arrastar o lateral e a abrir o espaço onde Suarez irá finalizar. Um comportamento defensivo que pode ser questionado, sem dúvida, mas como escrevi o desequilíbrio surge à priori.
Jogada 5 - Sublinhado para o primeiro dos dois golos de Totti no derbi de Roma. A Lazio opta por defender com uma linha defensiva muito próxima da linha da bola, sendo essa uma opção comportamental normal. À partida, esta é uma situação pouco favorável para que a Roma crie um desequilíbrio através de um cruzamento, tendo apenas um jogador na área, e por sinal atrás de toda a linha defensiva. O ponto aqui tem a ver com a oportunidade que este tipo de posicionamento defensivo abre perante bolas que atravessem quase paralelamente a linha defensiva. Ao estar colocado atrás de toda a linha defensiva, Totti tem uma dupla vantagem. Primeiro, relativamente ao controlo da legalidade do seu posicionamento, porque tem todos os defensores no seu campo de visão. Depois, o tempo de reacção à trajectória da bola, que é maior para ele do que para qualquer outro defensor, pelo facto de ser ele quem está mais afastado. E é precisamente a combinação destes dois factores que permite que Totti tire partido de uma vantagem improvável neste lance, sendo que grande parte do mérito vai para a lucidez de Strootman, que efectua o cruzamento com toda a intenção. Um exemplo de como diferentes soluções ofensivas podem ter um potencial de sucesso completamente diferente, em função dos princípios defensivos do adversário. Mais uma vez, uma constatação que valoriza a especificidade e reduz a hipótese de certos comportamentos e princípios tácticos serem, per se, amplamente superiores a outros.